estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-04-03

OS ABUTRES E QUEM LHES DÁ DE COMER

A figura dos abutres a caírem sem dó nem piedade sobre o cadáver de um desgraçado é um mito do velho Oeste. Antes dos abutres aparecerem, contudo, alguém ali colocou o cadáver ou não? Antes das câmaras das televisões e dos escribas de milhares de jornais do mundo inteiro se terem acotovelado sobre o que restava de João Paulo II, houve alguém que o deu a comer aos pombos. Ou andamos aqui a brincar?
Os maus são os jornalistas, os abutres e os outros, os que levaram o Santo Padre moribundo à janela sobre a Praça de São Pedro para o exibir na praça pública? E os que, minuto a minuto, hora a hora, foram distribuíndo aos abutres a informação de que um rim falhara, de que o coração estava fraco, que a respiração estava ofegante?
Quem colocou o cadáver sobre exposição total, para que o mundo católico o possa ver nas televisões do mundo inteiro?