estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-10-28

TORRES DEL PAINE

Posted by Picasa Torres Del Paine

Cerca de 150 áridos quilómetros a norte de Puerto Natales, colado à fronteira com a Argentina, fica o parque que leva toda a gente a cruzar a planície, o Parque Nacional Torres Del Paine. Tal como no Perito Moreno, a sorte acompanhou-nos durante parte da visita. Parámos na primeira lagoa, a salgada e esverdeada Laguna Amarga e tivemos o privilégio de ir vendo, progressivamente, a silhueta das montanhas refletir-se nas águas.
Na estrada poeirenta, entre uns quantos guanacos e uma raposa que parece contratada porque permanece imóvel perante a passagem dos turistas, as torres que dão o nome ao parque vão surgindo ao longe e agigantando-se. À medida que o céu escurece e começa a chuviscar, a Torre Norte Monzino, a Torre Central e a Torre D’ Agostini, todas entre os 2600 e os 2800 metros, surgem e desaparecem entre as nuvens que entretanto vão cobrindo o céu do parque.
A estrada de terra batida serpenteia pelo parque e à medida que avançamos em direcção Lago de Grey, um dos vários lagos da zona, contornamos as Torres Del Paine e os restantes picos que se erguem imperiais entre as nuvens. Às tantas, ao nosso lado há um lago de um azul cristalino surreal que acompanhamos durante vários quilómetros.
Desde as vidraças da Hosteria Grey, estrategicamente colocada, é possível almoçar com toda a comodidade com vista para o Glaciar Grey, um iceberg solitário e azulado. No Verão, muitos campistas acampam no Refugio y Camping Grey colocado do lado direito do glaciar. O camping é ideal para quem quer contratar um guia e caminhar por cima do gelo.
O tempo mudou rapidamente. O sol e o céu limpo que nos tinham permitido a visita espectacular na Lagoa Amarga desapareceram. Um céu frio e escuro ameaçando chuva recebe-nos quando empreendemos a caminhada em direcção ao glaciar. Atravessamos contra o sentido do vento uma praia de cascalho acizentado. Do lado direito, há um promontório arborizado que há medida que o escalamos nos dá perspectivas fantásticas da massa de gelo entalada entre as montanhas e do iceberg, um bloco azul bebé entre as águas turvas.
Começa a ventar e a chover, uma chuva fria que nos fustiga e parece querer correr connosco das proximidades do Glaciar Grey. O dia está ganho, no entanto, cheio de visões dignas de postal ilustrado, os cartões digitais das câmaras repleto de imagens de sonho. Jantamos no aconchego quente do El Marítimo, em Puerto Natales, de frente para a baía, uma garrafa de vinho chileno a aquecer o espírito.