estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-01-24

Aquecimento central

O rádio ligado num programa sobre a vaga de frio, a porta de vidro fechada por causa do frio, e o frio esse, que nunca mais vem, Jorge, acaba por tirar mais uma bica e comentar os comentários que vão saíndo da telefonia. "Como é que acha que os portugueses vão lidar com a vaga de frio?" Lá fora, na rua, não há sol, ali dentro no café-cubículo não existe frio mas tédio e irritação. "Vamos ouvir o ouvinte Bruno Tavares, de Vila Real. Bruno Tavares, como é que acha que os portugueses vão lidar com o frio?" Um pequeno momento de silêncio e resposta de Bruno: "Olhe, os outros não sei mas eu...bem, que eu tenho aquecimento central". Comentário do dono do Café: "Filho da puta! Tu tens aquecimento central mas a gente não tem!"