estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-07-07


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Camping Marina, Lublin, 29/6/2005

O Boeing 737 da "Central Wings" saíra de Lisboa cerca da 1h00. Chegámos muito cedo a Varsóvia. Esperámos que a loja do rent-a-car do aeroporto abrisse às 7h00, pegámos no carro e seguimos as indicaçõe preciosas do simpático funcionário. Tantas árvores, tanto verde, pensei. Como a Polónia é plana e verde e rural!
O pior foi em Lublin, após 100 e tal quilómetros. Onde raios se escondia o parque de campismo? A única indicação que tinha era a de que ficava a sul, perto de um campo de concentração e à beira de um lago. Descobrimos o lago mas nada de camping. As entradas em terra batida para a zona do lago sucediam-se e em todas havia alguém a cobrar uma entrada. Perguntavamos pelo camping. "Oh, camping, tak, dzwrreyetrzwrers, wardewrwrzsaswr..."
Finalmente descobrimos uma jovem loira de bicicleta que falava um inglês rudimentar e apontou para a zona norte do lago. Ao fim de voltas e voltas numa zona arborizada, descobrimos o que parecia ser um camping com uma tenda, sem vivalma e dezenas de bungalows iguais ao da foto com aspecto de abandono. Junto a uma recepção fechada, um homem cortava a relva. Falava polaco e alemão. Foi impossível explicar-lhe que queríamos dormir num bungalow. Desenhámos uma casa. Deu-nos uma chave e indicou-nos o que nos pareceu ser um bungalow. Não era. Era a chave da casa de banho. Voltámos, em estado de cansaço e estranheza. Voltámos a mostrar o desenho da casinha. "Oh, domeck!", gritou, batendo com a palma da mão na testa. Clicou na calculadora e mostrou um novo número. O bungalow iria custar-nos a quantia exorbitante de 13 euros.
O bungalow estilo siberiano era enorme: Dois quartos, cinco camas, uma sala. Graças à acção da madeira de cedro, o calor lá dentro era sufocante. Adormecemos exaustos e acordámos horas mais tarde num estado de entorpecimento e irritação que só se desvaneceu em Lublin, às 5h00 da tarde, numa das muitas esplanadas do centro histórico, à frente de uma zywiec e de um dos muitos bifes polacos da viagem.

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Depois do tal entorpecimento, da má disposição e de termos sido confrontados com um lago de água rasa e choca onde apenas as crianças pareciam ter coragem para se banhar, ultrapassámos a barreira dos edifícios estilo Olivais/ Portela da periferia e atingimos o coração magnífico de Lublin. Não estava à espera. Nem da vibração da rua Królewska, das suas esplanadas e comércio nem da magnificência do centro histórico nem do vazio assombrado do antigo bairro judaico. E finalmente, à luz do fim de tarde, o neo-gótico Castelo (na foto) que os nazis usaram como local de prisão e tortura.

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Casa da Praça Plac Po Farze, perto do velho bairro judeu. Calcula-se que grande parte dos 40 mil judeus de Lublin tenham sido exterminados, muitos no vizinho campo de concentração de Majdanek.