estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-07-16

TODOS AO FESTIVAL DO CARACOL SALOIO

Numa enorme tenda de 1.400 metros quadrados recheada de mesas e servida por 12 stands onde se cozinham caracóis começou esta sexta-feira uma das iniciativas gastronómicas mais exóticas e interessantes do país.
Até ao próximo dia 26, o Festival do Caracol Saloio espera receber milhares de pessoas junto ao Pavilhão Paz e Amizade, em Loures."No ano passado tivemos aqui 40 mil pessoas, que comeram cerca de sete toneladas de caracóis. Este ano esperamos a mesma enchente", explica uma porta-voz da Câmara Municipal de Loures.
Além dos mais variados pratos - pizzas de caracóis, pataniscas de caracóis, caracoletas com ovos -, os visitantes poderão apreciar mostras e exposições ao vivo de artesanato em stands vizinhos e assistir a espectáculos musicais ou participar em sessões de karaoke. Os organizadores gostariam, no entanto, de conseguir chegar um dia às multidões do Festival de Caracóis de Lérida, na Catalunha. "Lá é uma loucura", confessou um participante que já visitou o certame.
Em Loures, o Festival do Caracol Saloio começou em 2000, ainda com muitos torceres de nariz de quem hoje o visita, come e regressa. "As pessoas estavam acostumadas aos festivais de marisco e algumas achavam que isto era uma coisa de feirantes. No primeiro ano, a Câmara de Loures quase que pedia por favor para as pessoas participarem", conta Vítor Almeida, dono do snack-bar Apolo 78, de Loures, e pioneiro do festival.
Seis anos depois, é o próprio veterano Vítor Almeida a ficar espantado com a adesão dos donos de restaurantes. "O dia de abertura das inscrições começava às 9h30. O primeiro participante a chegar para se poder inscrever chegou às 4h30 e, às 7h, já tinham chegado os 12 participantes deste ano", explica. Aos fins-de-semana, os visitantes têm de fazer filas para poder chegar aos stands, depois às mesas e daí aos almejados caracóis. "Chegamos a ter filas de uma hora de pessoas em lista de espera. Está a ver aquele muro ali? As pessoas ficam ali à espera", explica o dono do Apolo 78.
O stand do snack-bar de Loures exibe uma série de diplomas de participação, recortes de jornais e prémios ganhos nas anteriores edições. "Deixou de haver concurso por causa das rivalidades. Enquanto houve, ganhámos uma vez e tivemos duas menções honrosas. O concurso acabou mas eu venho sempre para aqui com o mesmo espírito, como se existisse concurso", diz Vítor Almeida.
Este ano, o Apolo 78 trouxe ao festival, entre outros pratos, a caracoleta à Saint Germain. "Como é? Olhe, a caracoleta é descascada, marinada num molho de cogumelos, leva chouriço, vem acompanhada de batata a murro e o resto é segredo", responde bem disposta a cozinheira."O segredo está na escolha e na lavagem".
No stand O Caracol do Rato, que veio directamente do histórico Café Primavera, de Bucelas, a novidade do ano passado foi o prato de tordos fritos com caracol. Este ano, Anabela Alves, a proprietária, lamenta não ter conseguido os tordos, mas trouxe a Loures outras especialidades, como a dobradinha de caracol e as pataniscas de caracol. "Só nós é que temos a dobradinha mas espere aí que vai provar as nossas pataniscas..."
Noutros stands, como no Café Estrela, do Catujal, uma das especialidades é a pizza de caracóis. "Hum, está maravilhosa", saboreia o proprietário, Armando Pereira. "A juventude gosta muito. Leva um cheirinho de bacon, chouriço, o queijo e o tomate do costume e depois o caracol cozido no forno é envolvido em queijo derretido. Uma imperialzinha e uma fatia de pizza é cinco estrelas. Vai uma?"
Os preços, esses, não variam muito de stand para stand. Os visitantes pagam 3,5 euros por um pires de caracol, cinco euros por um prato, 7,5 euros por um prato de caracoleta assada e o mesmo por ovos mexidos com caracoleta, caracoleta frita, caracoleta de coentrada, açorda de caracóis ou feijoada de caracol. A pizza é um pouco mais cara, entre os nove e os dez euros. A fatia custa cerca de um euro e meio.
Apesar da variedade, mesmo os criadores das mais arrojadas invenções são unânimes em dizer que o caracol, quanto mais simples, melhor e que a vasta maioria dos clientes consome primeiro um prato de caracóis bem temperado antes de avançar para uma feijoada ou para uma massada. "Para mim, o grande prato de caracol é assado ou cozido. O grande segredo é a escolha e a lavagem. Depois, quanto mais simples melhor. Eu respeito quem lhe ponha chouriço ou cogumelos, mas não vou por aí", diz Vítor Almeida.Anabela Alves, do Caracol do Rato, é da mesma opinião. "Há quem meta bacon, azeite e chouriço. Isso só tira o sabor verdadeiro do caracol. Nós? Nós colocamos alho, cebola, orégãos e o resto é segredo."
Festival do Caracol SaloioLOURES Parque de estacionamento junto ao Pavilhão Paz e Amizade. Até dia 26 de Julho. De 2ª a 6ª, das 17h às 24h; Sáb. e Dom., das 16h às 24h. Pratos de 3,5 a 10 euros. Mais informações em www.cm-loures.pt.