PROBLEMAS COM A POLÍCIA? "JÁ SIM SENHOR"
No banco de madeira da entrada da esquadra, está sentado desde há uns tempos, um homem jovem, o cabelo acinzentado e grisalho, covas no rosto por barbear, vestido com um surpreendente kispo daqueles que se usa na Sierra Nevada mas não nas ruas dos Olivais. Alguém sussurra que foi apanhado a roubar no Pingo Doce.
“Eu ‘tava a acabar de almoçar”. A veterana gerente do supermercado começa lentamente, à janela do gabinete do sub-chefe, a narrar um filme que para ela, que traz muitos anos à frente de supermercados, já foi visto e revisto dezenas de vezes. “Foi quando o vi na caixa com aquele blusão muito arredondado, achei logo que aquilo não era normal. Disse à minha secretária para ir dizer ao seu colega de serviço. Eu juro que não vi meter nada mas que estava cheio de coisas, estava”.
O sub-chefe vira-se para trás na cadeira: “Oh Martins! Traga-me a identificação dele!” A gerente do supermercado continua a falar, como se não tivesse ouvido nada. “Aquele senhor é assiduo lá no Pingo Doce. E ele passava se eu não estivesse, porque o polícia que ‘tava lá, deixava-o passar. Já tenho muitos anos, muito calo, reconheci-o logo. Se tenho a relação dos objectos? Sei que era whisky e queijo mas o melhor é o senhor chamá-lo”.
O larápio, sempre de olhos no chão, vai ter finalmente oportunidade de se revelar. “Oh Martins, chame-me aí o homem!” A gerente vira a cara para o lado. É que de cada vez que alguém rouba uma caixa de fósforos ou uma garrafa de vinho do Porto, é ela que tem de esperar duas horas na esquadra para apresentar queixa, que tem de ir a tribunal. É compreensível que não lhe apeteça dar de caras com o homem. Mas é a custo que consegue reter a gargalhada quando o sub-chefe pergunta a profissão ao infeliz. Ele levanta-se e afirma com orgulho: “Desmontador de pneus, no desemprego”. Tem um olhar baço e indiferente de quem já cumpriu aquela rotina muitas vezes. “Já teve problemas com a polícia?”. Responde, sempre sem tirar os olhos do chão: “Já, sim senhor”.
“Eu ‘tava a acabar de almoçar”. A veterana gerente do supermercado começa lentamente, à janela do gabinete do sub-chefe, a narrar um filme que para ela, que traz muitos anos à frente de supermercados, já foi visto e revisto dezenas de vezes. “Foi quando o vi na caixa com aquele blusão muito arredondado, achei logo que aquilo não era normal. Disse à minha secretária para ir dizer ao seu colega de serviço. Eu juro que não vi meter nada mas que estava cheio de coisas, estava”.
O sub-chefe vira-se para trás na cadeira: “Oh Martins! Traga-me a identificação dele!” A gerente do supermercado continua a falar, como se não tivesse ouvido nada. “Aquele senhor é assiduo lá no Pingo Doce. E ele passava se eu não estivesse, porque o polícia que ‘tava lá, deixava-o passar. Já tenho muitos anos, muito calo, reconheci-o logo. Se tenho a relação dos objectos? Sei que era whisky e queijo mas o melhor é o senhor chamá-lo”.
O larápio, sempre de olhos no chão, vai ter finalmente oportunidade de se revelar. “Oh Martins, chame-me aí o homem!” A gerente vira a cara para o lado. É que de cada vez que alguém rouba uma caixa de fósforos ou uma garrafa de vinho do Porto, é ela que tem de esperar duas horas na esquadra para apresentar queixa, que tem de ir a tribunal. É compreensível que não lhe apeteça dar de caras com o homem. Mas é a custo que consegue reter a gargalhada quando o sub-chefe pergunta a profissão ao infeliz. Ele levanta-se e afirma com orgulho: “Desmontador de pneus, no desemprego”. Tem um olhar baço e indiferente de quem já cumpriu aquela rotina muitas vezes. “Já teve problemas com a polícia?”. Responde, sempre sem tirar os olhos do chão: “Já, sim senhor”.
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