estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-02-11

"Queres lá ficar?"

Há uns anos largos, 97, 98, fui a Leiria fazer uma reportagem sobre as eleições autárquicas no concelho. Nessa altura, o presidente da câmara cessante, um velho dinossauro, tinha sido abandonado pelo PSD e candidatava-se pelo PP ou pelo PPM, perdoem-me a falta de memória. Fui a um sábado de manhã aos paços do concelho para falar com ele e encontrei dois indivíduos. Um deles, era presidente do clube de futebol da terra. Perguntou-me a que jornal eu pertencia e como íam as coisas no jornal. Eu disse-lhe a verdade. As coisas íam mal e estavam a reduzir o número de jornalistas. O indivíduo puxa da carteira, tira um cartão e diz-me: "Queres lá ficar? Queres lá ficar? Dá-me o teu nome que eu escrevo-o aqui num cartão e ligo a um engenheiro que eu conheço muito bem lá na administração". Recusei a amabilidade e fui entrevistar o velho dinossauro. Neste preciso momento, o indivíduo está a ser ouvido pela Polícia Judiciária no âmbito do Caso "Apito Dourado". Gostava que lhe fizessem só uma pergunta: "Queres cá ficar? Queres cá ficar?"

1 Comments:

  • At 3:23 da tarde, Blogger Maria said…

    Ironias da vida ou, talvez, não!
    "O crime não compensa" ou "Deus tarda mas não falha" são duas expressões populares aplicáveis a este caso.

     

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