estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-04-05

A revelação Willy Mason

Aos 20 anos, Willy Mason, alegado protegido de Conor Oberst, mistura de forma brilhante folk, blues, rock e country num caldo admirável de canções desencantadas e de protesto. “Gotta Keep movin” traz a força despojada da batida punk, o ritmo dedilhado de uma guitarra blues e o cantar desencantado de um trovador folk. “All you can do” é uma canção de protesto que lembra a punk/ new wave; “Still a fly” é Simon & Garfunkel via Mason Jennings. “Where the humans eat” canta o desencanto amoroso com o fundo delicado de um violoncelo, “Fear no Pain” é uma jóia country/ blues/ gospel; “Hard hand to hold” vai de novo buscar a força à folk à Bob Dylan e ao country e gospel de Johnny Cash; “Sold my soul” é uma valsa à Jim Morrison abrigada numa guitarra eléctrica distorcida; “Our town” é uma magnífica balada folk/ pop; “So long” podia colocar um honky tonk do Texas todo a dançar e a atirar chapéus ao ar, com a sua batida country/punk. “Oxygen” é um hino à consciência de cada um numa América injusta e “21st Century Boy” remata com folk/rock e a história de alguém que não sabe bem onde se encaixar no mundo de hoje. Esse alguém parece ser o próprio Willy Mason.

Willy Mason
“Where The Humans Eat”
Virgin, distri. EMI-Valentim de Carvalho
Brevemente numa loja ao pé de si