estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-09-11


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III- Nada matará a música da "Big Easy"

Ninguém sabe agora se um dia a “Crescent city” voltará a ser o que era. O realizador e natural de New Orleans Michael Murphy passou os últimos anos a filmar a cena musical da cidade para o documentário de 110 minutos “Make It Funky”, que estreou sexta-feira, dia 9 de Setembro nos Estados Unidos.
Michael Murphy filmou bandas de jazz a marchar pela Bourbon Street, entrevistou Cosimo Matassa, co-fundador dos famosos J & M Studios, gravou ao vivo Irma Thomas, o guitarrista Snooks Eaglin, os The Neville Brothers e Allen Toussaint. O filme procura, segundo o realizador, seguir a música de Nova Orleães até às suas raízes africanas e caribenhas.
Agora, Murphy receia que em vez de um tributo, tenha filmado uma espécie de obituário. “O que me parte o coração é a perspectiva de ter feito um filme sobre algo que desapareceu”, disse à Associated Press.
Muitos músicos de New Orleans vão ter que se fixar e procurar trabalho noutros locais. Uma das hipóteses credíveis é Austin, no Texas, senhora de uma cena musical feita de dezenas de bares e clubes que vão dos blues à country e à folk.
“Austin é uma irmã espiritual de New Orleans” explica a cantora de blues Marcia Ball, fixada na primeira mas nascida na Louisiana. “Por isso, é provável que acabe por receber músicos deslocados de lá. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar”.
Se há quem pense em sediar-se em outras cidades, há também quem mantenha um optimismo a toda a prova e acredite no futuro da música de New Orleans.
Rio Hackford, dono do bar de rock do French Quarter “One Eyed Jacks” diz que toda a gente com quem falou pretende regressar. “Temos de reconstruir o maldito esqueleto da verdadeira, genuína cena musical da América. New Orleans é onde nasceu o jazz e sempre será. Vai ser uma confusão durante bastante tempo mas será uma confusão que produzirá bons temas. O espírito de New Orleans é muito profundo”, afirma.
O produtor Daniel Lanois, que manteve um estúdio de gravação no French Quarter entre 88 e 2001, também é outro optimista: “Tenho a sensação de que a comunidade musical vai arregaçar as mangas e continuar com as coisas. Trata-se de uma parte do mundo que já sofreu muito e, no entanto, muita música fantástica veio de lá. Por muito terrível que isto pareça, nada poderá matar alguma vez a música de New Orleans.”