estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-12-08

UMA NOITE MEMORÁVEL

fim

Estava tudo preparado para ser uma daquelas noites europeias...Na estação do metro de Sete Rios, já havia aquelas filas habituais dos benfiquistas que vêem de fora e querem comprar bilhete para seguir para a Luz. Dentro das carruagens, já se gritava "SLB, SLB", os habituais frequentadores esmagados pela presença dos benfiquistas. Quando saí na estação do Alto dos Moinhos, percebi verdadeiramente que se tratava de uma noite especial: o sotaque dos benfiquistas do norte, mulheres das beiras a chamar pelos maridos "Oh Manel, espera aí vamos todos juntos", as roulottes assaltadas por uma legião encarnada. Aquela hora, umas 18h30, ainda continuavam a chegar as camionetas. É nestes dias que me pergunto o que sentirão essas pessoas que fazem centenas de quilómetros desde Castelo Branco, Faro, Viana do Castelo, para virem assistir a um jogo na Luz, sujeitarem-se a ver o clube perder e regressarem na mesma noite para a terra.
Curiosamente, a presença dos adeptos ingleses era muito menos marcante do que eu esperava. Numa das roulottes, um grupo de adeptos britânicos, um dos quais uma trave de ombros largos com o George Best nas costas da camisola, ensaiou uns cânticos ao fim de umas imperiais e acabou a confraternizar com a mole benfiquista.
Entrei no estádio pela ponte pedonal do lado do Alto dos Moinhos. Há um estranho sentimento quase religioso nestes dias. Pessoas e mais pessoas vestidas de encarnado empelidas, movidas e unidas por uma mesma atracção espiritual. Lá ao fundo, o "Stadium of Light" todo iluminado. Do lado direito, indiferentes aos gritos de "ninguém pára o Benfica", aos pregões dos vendedores de castanhas, aos cânticos dos ingleses, dezenas de crianças vestidas à Benfica treinavam como sempre treinam aquela hora.
Da varanda do primeiro andar do edifício das lojas e dos restaurantes, grupos de jovens alcoolizados benfiquistas entravam em despique com um grupo de ingleses que tinham uma faixa enorme presa à grade que dá para o relvado das escolinhas. Dentro do edifício existia o bulício habitual mas em grande. Mesas pejadas de copos de plástico de cerveja por todo o lado, os restaurantes a abarrotar, os empregados numa correria para todo o lado. Ainda confraternizei com um grupo de ingleses sentados à volta de um cilindro de cinco litros de cerveja. Um trazia uma bandeira irlandesa ao pescoço, outro vestia uma camisola verde com o rosto do George Best. Bastou um elogio à t-shirt para ouvir um adepto entroncado, rosado, o crânio em jeito de pittbull, a espuma da cerveja ainda nos lábios: "Hoje vamos homenagear o George Best e o jogo que ele fez aqui em 68". Sorri, despedi-me e temi que fosse verdade.
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Aquele golo estranho e a frio do Paul Scholes aos seis minutos foi como uma chamada à terra, à dura realidade. Pensei: Aqui está o grande Manchester United preparado para humilhar um Benfica desfalcado. O Estádio até aí em festa gelou. Olhei para o lado esquerdo da Bancada Coca-Cola, vi a festa dos "away supporters" e disse para comigo "estamos feitos".
But then...miraculosamente, de forma tremenda e como já não via há muitos anos, o Estádio da Luz ressuscitou das cinzas, acreditou nos jogadores e continuou a apoiá-los. O voo do Geovanni empurrando a bola para dentro da baliza foi o fósforo que faltava para incendiar a noite.
golo geovanni
Nem Wayne Rooney nem Van Nistelroy nem muito menos um desnorteado Cristiano Ronaldo conseguiam nadar naquela atmosfera delirante. O petardo de fora da área do mal amado Beto arrumou com eles.
golo beto
A noite era nossa, de festa total nas bancadas. Na noite fria e húmida de 7 de Dezembro de 2005, regressava oficialmente o "inferno da Luz".

Adeptos ingleses

Exceptuando a festa do golo de Paul Scholes, quase não se deu pelos adeptos do Manchester United. Sinal de que também eles ficaram rendidos à exibição de um Benfica surpreendente e abafados pela barulheira infernal do Estádio da Luz.

O público da Luz

Não se calou do primeiro ao último minuto, incentivando os jogadores do Benfica sempre que surgia um contra-ataque e massacrando os jogadores ingleses com assobiadelas e vaias sempre que pegavam na bola.


A turma brasileira

Uma palavra muito especial para a turma brasileira do Sport Lisboa e Benfica e em particular para o Geovanni, Beto, Andersson, Luisão, Leo, Alcides. Pessoal, muito obrigado, viu?
brasileiros

Uma noite para a História

Estes dois senhores pertencem à história do futebol mundial e fizeram questão de não faltar à festa
Para a história

Audiência televisiva
Desde o início da época 2005/06, o jogo Benfica-Manchester United foi a partida vista por mais telespectadores. Porque será?

Memorabilia
Bilhete