estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-10-30

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É certo que a bordo todos esperavamos ansiosamente por aquele momento ventoso e agitado. Zarpáramos de Ushuaia, a cidade mais austral do mundo cerca das 20h00 da noite anterior. Estávamos prestes, em breve, a aproximarmo-nos de um rochedo e de uma passagem que são simplesmente um mito e uma tentação para gerações de marinheiros, o Cabo Horn. E, no entanto, tudo o que se passara em Ushuaia conservava-se-me na retina.
Por momentos, esqueci onde estava, respirei o ar frio e seco do extremo sul, fechei os olhos e voltei a ver a neve dos picos andinos naquela que fora uma das mais belas e electrizantes aterragens da minha vida, a aproximação por ar ao Canal Beagle, a visão nocturna e fria de uma Ushuaia outonal, o glaciar Martial a pairar por cima da antiga colónia penal. No Outono não neva mas faz suficientemente frio para que o primeiro impulso de muitos viajantes seja o de comprar um daqueles gorros quentes e felpudos e passear pela Avenida San Martin, a artéria principal da cidade, a observar as geometrias e cores dos rostos indígenas. Homens e mulheres exibem olhos largos e pretos e cabelo negro, vestem anoraks passeando crianças de gorros coloridos por entre casas de madeira a lembrar um pouco a Escandinávia no pólo oposto do mundo.