estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2007-11-07

PROTAGONISTAS DE "AO VOLANTE DO PODER" NO DEBATE DO ORÇAMENTO DO ESTADO

Um grande número de protagonistas do livro "Ao Volante do Poder" (ver blog www.aovolantedopoder.blogspot.com), editado dia 17 de Outubro pela Bertrand e que relata peripécias dos nossos políticos em visita a Nova Iorque, estão desde ontem na Assembleia da República, em Lisboa, a participar no debate do Orçamento de Estado para 2008.

MULHERES E LIMUSINAS
Outros estarão, com certeza, a assistir em casa ou nos seus gabinetes, em Portugal ou no estrangeiro. Entre eles deverá estar um ex-primeiro-ministro e um ex-ministro, citados no capítulo "Mulheres e Limusinas": "Numa viagem a Nova Iorque, o então primeiro-ministro encontrava-se alojado num hotel e um dos seus ministros noutra unidade hoteleira. Um assessor do primeiro-ministro veio pedir-me para espiar
o ministro. Mais tarde, este soube que o assessor tinha andado lá
pelo hotel e deu ordens para que tentassem saber o que outro tinha
andado lá a fazer. O ministro não fazia ideia de que o assessor fora
lá, procurando que eu desse conta dos passos do mesmo. Deixei-os a
espiarem-se uns aos outros...
A participar, na AR, destacamos por exemplo,Jaime Gama, o líder da bancada parlamentar do PSD, Pedro Santana Lopes, o deputado Correia de Jesus, o actual primeiro-ministro José Sócrates, o actual ministro das Finanças, Teixeira dos Santos e muitos outros.

TEIXEIRA DOS SANTOS E A ROUTE 66
Recorde-se que foi Pedro Faria, o protagonista do "Ao Volante do Poder" quem, depois de transportar diversas vezes Teixeira dos Santos, inclusivamente por esse bairro famoso da Big Apple que se chama Bronx, quem organizou ao actual ministro uma viagem na Route 66.
O mesmo Teixeira dos Santos é citado, por exemplo, nas páginas 85, 86, 102 e 114:
Leia-se na página 102:
"Já na sua qualidade de ministro das Finanças, acompanhei-o quatro
dias na reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), em
Washington. Num dos dias da estadia, um assessor disse-lhe que existia
pressão de certas pessoas do Partido Socialista para que as vagas
para directores de serviços fossem preenchidas por gente do partido.
Teixeira dos Santos respondeu um pouco irritado: «É-me indiferente
que as pessoas sejam do Benfica, do Sporting ou do Futebol Clube do
Porto. Vou escolher as mais competentes».

CORREIA DE JESUS EM NOVA IORQUE

Correia de Jesus é outro protagonista que visitava Nova Iorque e em especial os clubes luso-americanos da área: "Outro orador militante era o madeirense e social-democrata Correia de Jesus, secretário de Estado das Comunidades do governo de
Cavaco Silva. Adorava presentear a comunidade com improvisos. No
fim do discurso, segurava-me as duas abas do casaco e perguntava:
«Pedro Faria, falei bem?»

SANTANA LOPES E AS ASSESSORAS

Santana Lopes também foi transportado pela empresa do co-autor do livro e é citado na página 122: "Santana Lopes, então secretário de Estado da Cultura, deslocou-se
a Washington a uma exposição e requisitou uma limusina longa para
si e mais cinco ou seis belas assessoras. No regresso, transportei-o ao
JFK para que pudesse apanhar o Concorde. Conseguiu apanhar o avião
mas alguém se esqueceu de me pagar parte dos fretes..."

JAIME GAMA E A LIBERTAÇÃO DE TIMOR-LESTE

Recordemos que o livro está à venda na FNAC, nas livrarias Bertrand e em algumas livrarias independentes e contem entre outros, episódios sobre os bastidores das negociações pela libertação de Timor-Leste, como este: "Quando não conseguia contactar directamente Jaime Gama, António
Guterres ligava para o meu telemóvel. Numa ocasião, Jaime Gama
encontrava-se no exterior da viatura na Brodway, a folhear livros em
segunda-mão, e fui eu que atendi o então primeiro-ministro.
Transportara Jaime Gama a um almoço com o então secretário-
-geral das Nações Unidas, Kofi Annan e Ali Alatas, quando a Indonésia
finalmente cedeu em relação a Timor-Leste. Nada fazia prever
o que iria acontecer nessa refeição. Quando o ministro chegou ao
carro, não cabia em si de contentamento: «Pedro Faria, você não vai
acreditar, o governo indonésio atirou a toalha ao chão!». O que até há
bem pouco tempo era considerado impensável, acontecera e eu fora a
primeira pessoa a saber. Gama perguntou-me pelos seus assessores e
pegou em seguida no telefone para comunicar com Lisboa.