estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-03-14

MORTE NA ESQUADRA (BASTIDORES)

É quarta-feira e a camioneta da EVA chega finalmente a Lagos depois de quase quatro horas de viagem, cerca das 16h00. Saio da estação de camionagem, atravesso a ponte junto à marina e sigo a pé para a Meia Praia. Dirijo-me à escola de windsurf onde trabalhava José Reis. Explicam-me que pouco terão a dizer enquanto a família não falar e a família não fala. Na moradia vizinha dos pais de José Reis, não está ninguém. "Estão para fora, para casa de família", explicam-me.
Palmilho tudo de volta a Lagos. Ligo para o meu contacto, alguém que testemunhou tudo no Grand Café. Resposta: "Já lhe disse tudo. Os meus amigos estão a ser ameaçados, não lhe posso dizer mais nada". Ligo a um amigo: "Fostes aí fazer o quê? A autópsia confirma suicídio, para investigares mais precisavas de pistas".
Noite de quarta-feira, sem pistas, alguém me dá o contacto que outro alguém que viu tudo. Vou ao local onde essa pessoa trabalha. Diz que não viu nada. Vou ao Grand Café. O gerente está só no bar, essa quarta-feira à noite. Diz que pouca gente se apercebeu do desacato, que não sentiu spray nenhum e que nem Reis nem Domingos alguma vez haviam provocado algum problema ali.
Quinta-feira, de volta ao Windsurf Point, falam-me numa amiga de José num bar de barracas onde ninguém tem medo da polícia e no local de trabalho do pai do amigo de Zé, que fazia anos naquele sábado fatídico. Vou ao bairro e falo com a amiga. Que sim, que lhe contaram o que se passou mas não consegue encontrar rápidamente as testemunhas.
Vou a saír da Meia Praia, vejo um carro estacionar junto a casa de José Reis. São os pais. Falamos junto à porta de casa. Fico a saber que ninguém lhes mostrou a autópsia e que está tudo entregue à filha, Paula Reis. No dia seguinte, já não estarão em casa.
Vou à esquadra. O comandante da PSP de Lagos explica educadamente que não fala nem pode falar.
Regresso a Lagos. Vou ao local de trabalho do pai do aniversariante. Não se encontra. Espero. Só sei o seu apelido. Dizem-me que vem aí. Explico que tenho um assunto particular a falar com ele. Pede-me para esperar de novo e sai. Espero. Quando regressa, explico ao que venho. Diz-me que o filho nunca falará comigo. Insisto.
"Ok, eu levo-o lá onde ele trabalha mas não diga que fui eu que o levei lá". Deixa-me junto ao local onde trabalha o filho, amigo de José. Não está ninguém e chove em Lagos. Abrigo-me junto à porta até que vejo uma pessoa a chegar. Sorri e diz: "Huum, já sei quem você é..." Explico que não sou da polícia. Falamos informalmente. Fico a saber que há pessoas a ser ameaçadas. Por quem? Não sei.
Investiguem a fundo? Muito fácil de dizer e comentar...