Nashville Country Music Fan Fair 94
A primeira introdução à Country Music Fan Fair foi ainda em Nova Iorque, em pleno aeroporto John Kennedy. As bagagens pesadas na mão, uma funcionária da TAP a guiar-me pelo labirinto da alfândega para nos levar ao La Guardia e o guarda, gordo, sorridente: “Country music? Você vem de Portugal para ouvir country music? Não posso acreditar”. Depois, fez-me a pergunta que ouviria repetida vezes sem conta em taxis e restaurantes de Nashville. “Qual é o seu favorito?” Respondi: “Dwight Yoakam”. Que sim, que gostava mas que preferia Nanci Griffith e John Prine. A funcionária da TAP sorria mas no fundo desesperava. “The Speed of Sound of Loneliness”, disse eu. “Trouble in The Fields”, retorquiu o guarda aduaneiro. “Country Music, quem me dera ir com vocês para Nashville”.
Aterrei em Nashville num daqueles aviões da American Airlines de estofos poídos de azul marinho, com caixeiros-viajantes a discutir a qualidade dos hoteis por onde passavam, uma lata de Lite Beer na mão: “E em Orlando, na Florida, penso que foi há uns três anos, meteram-me num motel sem ar condicionado. Imagine-se, sem ar condicionado na Florida, em Julho...” Ao lado, um rapaz de formas algo deformadas, ou seja, demasiada barriga e pernas inchadas vestido numa espécie de pijama preto e branco, dormia a sono solto com as páginas desportivas do “USA Today” abertas de par em par. Um qualquer funcionário de uma qualquer empresa concluia com ar angustiado umas contas que nunca mais pareciam terminar. Um calor húmido e absurdo de colar a camisa às costas invadiu-me mal passei o ar condicionado do hall do aeroporto para o exterior. Bem vindo ao quente e húmido Tenesseee, parecia dizer. A minha primeira e imediata reacção quando cheguei ao quarto de hotel foi sintonizar uma rádio country e ligar a TNN (The Nashville Network). Estava em Nashville, finalmente e só o cansaço de umas 14 horas de viagem me impedia de correr imediatamente para a cidade.
A segunda introdução à Fan Fair ocorreu na noite de domingo, mesmo na véspera de começar o festival. Um salão enorme cheio de candelabros e mesas um pouco por todo o lado era palco da reunião dos fans de Joe Diffie, uma estrela recente no firmamento country. “Nós adoramos a sua voz, é um tipo fantástico. Ele fala contigo de igual para igual, não te põe de lado, percebes?”, explicava John Kershaw, de Glen Rock, Pensilvannia. “Mas a minha mulher é que tem o album”. O album? “Sim, o album com fotos e recortes de jornais de tudo o que Joe Diffie tem feito. Vem ver”. Pegou num album de capas plastificadas. “Olhe, aqui é um jogo de baseball em que Diffie apareceu. Aqui”, diz, virando a página, “é o Joe lá na Pensilvannia. Que show, homem, que show! Linda! Bolas, eu chamava a minha mulher mas ela agora está ocupadíssima a tentar comprar a jaqueta azul do Joe Diffie”. John abriu a carteira e mostrou-me os cartões de membro dos clubes de fãs de Alan Jackson, de Marty Stuart e Clint Black. “Yeah, somos grandes fãs também mas não é a mesma coisa. Sabe, nunca consegui falar com Clint Black e Marty Stuart mostra que está a fazer frete. O Joe não, o Joe vale bem as 800 milhas que fiz de automovel para estar aqui”. Lá ao fundo, junto à mesa central, Joe Diffie, um pouco mais gordo do que na capa dos discos, deixava-se fotografar junto dos fãs e assinava autógrafos. Uma fila colorida de mulheres gordas, esperavam pacientemente na fila que dava a volta ao salão. Algumas seguravam fotografias, outras máquinas fotográficas. Todas queriam ser fotografadas com Joe Diffie. Eram 21h30 e não dava para imaginar quando é que o cantor poderia sair dali. Numa mesa corrida ao fundo, leiloavam-se objectos de Joe Diffie. Lá estava a jaqueta azul que a esposa de John ambicionava, ao pé de umas botas decoradíssimas e de inúmeras fotos autografadas. Os fãs íam passando junto à mesa e escrevendo quanto queriam dar.
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