estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-05-15

"Such a night..."

Na minha cabeça um pouco alcoolizada Dr John canta “such a night…”. Um grupo de jovens agita bandeiras do Benfica e canta: “Ninguém pára o Benfica, ninguém pára o Benfica, olé, oh”. Ao meu lado, um homem pequenino todo de encarnado, lata de Sagres na mão, dança ao som de um rádio caixote onde se ouve: “Somos Benfica, somos paixão…” O filho, minúsculo, vestido com o equipamento do centenário coberto pelo pano de uma bandeira maior que ele, vai brincando aos pontapés numa lata vazia. O homem da roulotte explica que a imperial (fino) acabou. “Mas há cerveja em lata? Quer uma cerveja em lata?” Um outro homem, com um ramo de eucalipto ao pescoço, explica às raparigas da roulotte, entre o divertido e o surpreendido, “a grandeza do Benfica”. Só interrompe o discurso para maçar dois sportinguistas a acompanhar amigos benfiquistas. Os sportinguistas estão com cara de quem quer beber uma última imperial, rumar a casa e meter-se na cama mas o homem do ramo de eucaliptos não se cala. Um negro de chapéu de Pai Natal celebra a vitória do Benfica no meio da estrada. Um carro-vassoura da câmara, daqueles pintados de verde alface, apita à passagem junto aos benfiquistas concentrados junto às roulottes. O meu filho mais novo reclama: “Bebe lá isso depressa”.
Táxi para casa. O taxista é…do Benfica e meu vizinho, morador no Pica Galo, encosta sobranceira à Trafaria: “Isto aqui não é nada, o trânsito está cortado na Avenida da Liberdade e no Marquês do Pombal. Foram lá meter-se com o leão…(risos)”. No Marquês do Pombal? Mas ainda não ganhámos nada…”Ganhámos aos lagartos!”, desabafa o taxista.

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