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II- Um mundo em suspensão
Agora, esse mundo está em suspenso, debaixo de água ou sob um vazio fantasmagórico, como no caso da famosa Bourbon Street. Ninguém sabe ao certo como estão ou se serão recuperáveis lugares míticos como o clube Tipitina's ou o Sea-Saint Recording Studio.
Sabe-se que os históricos clubes de jazz Preservation Hall e Snug Harbor não foram afectados pelas águas, que o enorme arquivo de jazz Hogan Jazz Archive, na Tulane University, também terá sobrevivido mas a Louis Armstrong House sofreu estragos e é impossível fazer um balanço do que terá sido atingido em gravações, fitas e pautas originais por toda a cidade.
As perguntas avolumam-se: Será que no próximo ano se poderá realizar o histórico New Orleans Jazz & Heritage Festival? E o famoso “Mardi Gras”? Onde estão os músicos que faziam da cidade uma das cenas musicais mais vibrantes do planeta?
O que é feito da banda de rithm and blues The Neville Brothers, de Fats Domino, de Dr John, de Corey Harris, do cantor de blues Bryan Lee, de Allain Toussaint, da cantora soul Irma Thomas, da The Preservation Hall Jazz Band, dos guitarristas de “slide guitar” Sonny Landreth e John Mooney, só para falar de alguns?
Aos poucos e nos dias que se seguiram à tragédia, foram-se sabendo algumas coisas. Fats Domino, afinal, acabara por ser resgatado de barco da sua casa inundada e fora ajudado e recebido no apartamento de Baton Rouge de um jogador da Louisianna State University. A maioria dos membros dos The Neville Brothers, cuja casa foi destruída, fugiram para Memphis e refugiaram-se num hotel local. A “rainha” da soul music de Nova Orleães, Irma Thomas escapou para casa de uma tia em Baton Rouge. O famoso compositor e membro da Rock and Roll Hall of Fame, Allen Touissant, foi visto a cirandar pelo caótico Superdome. O rocker Alex Chilton foi resgatado de helicóptero da sua casa na cidade.
Alguns músicos conseguiram sair da cidade com menor ou maior dificuldade. O saxofonista de jazz Donald Harrison perdeu a casa mas conseguiu escapar de New Orleans “com dificuldade”.
Os elementos da banda de rock The Iguanas escaparam para Memphis, Houston e Birmingham, no Alabama. “Vi na televisão a água quase no topo do centro comercial que fica perto de minha casa”, explicou desalentado o saxofonista da banda Joe Cabral.
O trompetista de jazz Terence Blanchard conseguiu fugir para Atlanta juntamente com a sua família e entretanto colocar a família num apartamento que mantem em Los Angeles. Terence, tem, entretanto, que gerir as datas de concertos já marcadas, como as de 15 e 16 de Setembro em Boston, a perda da casa da mãe, os estragos no seu estúdio de gravação e a condição de deslocado em Los Angeles.
Muitos músicos perderam ou receiam ter perdido familiares. O pianista de blues Dr John, surpreendido em tournée em Minneapolis, confessou à revista “Rolling Stone” não saber onde parava a família: “Tenho dormido uma hora por noite. Quase toda a gente que conheço, incluindo a minha família, está desaparecida. Podem estar em qualquer sítio”.
Tal como Dr John, muitos outros foram surpreendidos em tournée, como o cantor de música cajun Steve Riley, o artista de zydeco Geno Delafose ou o exímio guitarrista de blues Sonny Landreth, que tocaram no fim de semana passado no festival Rhytm & Roots, em Charlestown, Rhode Island.
Susan Cowsill, vocalista da banda de alternative-country The Continental Drifters, estava em Nashville. “Toquei em Nashville na noite passada e foi terrível, parecia que ía chorar a cada minuto”, explicou Susan à “Rolling Stone”.
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