estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-11-02

BEEN THERE DONE THAT

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Três ou quatro célticos desfraldam uma enorme bandeira irlandesa de um viaduto do eixo norte-sul. Nela lê-se West Belfast. Os carros, em baixo, são envoltos na bandeira. Uns quantos polícias correm lá em cima para retirar a bandeira. São abraçados pelos celtas, em tronco nú, gente que ri, que pula, que abraça, como se só estivessem ali para fazer amigos. Afinal, que clima estupendo, que cerveja óptima. "We hate Porto, we hate Porto, we hate Porto more than you!", cantam em roda, à espera que a gente colabore. "Ok, next round, we hate Porto, we hate Porto..." Às tantas, já não sei quantos cumprimentei ou abracei. "If you hate Porto, clap your hands!" Mais tarde, um grupo faz uma espécie de dança da chuva no meio da estrada. Lá vem a polícia outra vez, rapazes sisudos, mal encarados. Ainda não perceberam que está tudo em festa.
No estádio, a bancada Coca-cola forrada de dez mil cachecois verdes e brancos, há qualquer coisa de mítico, de céltico, prontos, naquele brado, cântico final que saúda a equipa que acaba de perder por 3-0. É um canto que parece vir lá das profundezas das Highlands, dos vales e montanhas gelados da Escócia que eu nunca visitei.
Resultado: Regressámos a casa com dois cachecois diferentes do Celtic e uma t-shirt e se um dia for a Glasgow quero ir direitinho a um pub da East Glasgow, beber uma pint com os meus amigos célticos. "We hate Porto, we hate Porto, we hate Porto more than you, c'mon!"