estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-05-30

"Amanhã não fazes os trabalhos de casa"

Deviam estar uns 20 graus. Perpassava pelo Parque da Bela Vista uma atmosfera de festa para toda a família. Namorados sentados junto a redes penduradas nas árvores. Sons, luzes e cores pairando sobre o anfiteatro verde que todos ou quase todos desconhecíamos. Jovens a passar por cima das nossas cabeças a fazer mais um slide enquanto alguém cantava no palco. Outros andavam de skate ao som do Peter Gabriel. Bem Harper pôde cantar “Waiting for an angel” e comentar que fôra como se estivesse na sua sala de estar. Pela uma da manhã, um casal cobria os filhos adormecidos junto ao palco. Um pai apareceu num dos caminhos asfaltados que saem do arvoredo, com a filha debaixo do braço: “Amanhã, não vais precisar de fazer os trabalhos de casa…”

Parque da Bela Vista
Lisboa
Noite de 29/5/2004