A luz que nos ilumina
“There Will Be a Light” foi gravado nos Capitol Studios em Los Angeles em duas sessões que não totalizaram mais de oito dias, em Janeiro e Março deste ano. Tendo já Ben Harper colaborado no último álbum do grupo de gospel Blind Boys Of Alabama e tendo também ambos partilhado o palco diversas vezes, partira destes últimos o pedido para que Ben produzisse o seu novo álbum. Atarefado, Ben teve de se escusar mas acabou por entrar em estúdio com eles para gravar um ou dois temas para o disco. Acontece que a experiência se revelou muito mais interessante e criativa para ambos os lados. No fim da primeira sessão, em Janeiro, Ben Harper acabou por gravar cinco temas. Em Março, mais uns dias de estúdio e um álbum de 11 temas gospel ficou completado, não o tradicional álbum gospel mas um disco que absorve muitas das influências já patentes na obra de Ben Harper: soul, funk, country.
O cantor escreveu sete dos temas, aos quais foram juntadas versões como “Well Well Well” de Bob Dylan, “Satisfied mind” ou a tradicional “Mother pray”. Como conceito, “There Will Be a Light” é um álbum dedicado a Deus e à relação com Deus. A nível musical, no entanto, é muito mais complexo, com o gospel e as vozes dos Blind Boys Of Alabama ( Clarence Fountain, Jimmy Carter, George Scott, Ricky McKinnie, Joey Williams, Bobby Butler e Tracy Pierce) a cruzarem-se com diferentes estilos, desde a funk aos blues e à soul.
“Take my hand” começa com uns arremedos de percussão e teclados para depois fundir o gospel com o funk. A voz de Ben Harper lidera o conjunto de vozes dos Blind Boys, de onde depois se solta a de Clarence Fountain repetindo “oh my lord, take my hand, let me walk with you, let me talk with you, don’t let me stumble”. O segundo tema, “Wicked man” é completamente diferente. Sua southern soul por todos os poros. É um daqueles temas que coloca toda a plateia a balançar e a dançar e que são tão do agrado de Ben Harper. Consegue passar a mensagem ao mesmo tempo que dá felicidade, numa bandeja, a quem ouve: “Every man is a common man and every common man has his plan but while the hungry man seek any food in sight, the greedy man seek only appetite. The wicked man shall fall”.
O terceiro tema, “Where could I go”, é uma simples mas belíssima balada gospel infectada de soul em que Ben Harper surge só perante Deus, com o fundo de um piano e de uma discretíssima secção rítmica. “Now I’m coming to you with my arms open wide, where could I go but to the lord”. Em “Church House Steps”, existe de novo muito balanço funky e a Fender sola em liberdade enquanto os Blind Boys of Alabama repetem incansáveis “I sat down upon the church steps”. As coisas tranquilizam, sossegam com o solo de slide acústica de “11th commandment”, que praticamente serve de introdução a “Well Well Well”, um gospel que Ben enriquece com um slide acústico muito Delta Blues. Aqui, quem dialoga são as vozes em coro e a guitarra, que acaba a solar, como num velho tema de blues do Mississipi.
“Picture of Jesus” já surgira no álbum “Diamonds On The Inside”. Ben Harper filosofa sobre o lado tranquilizante e abençoado de uma imagem de Jesus que transporta consigo mas reflete também sobre a forma como as suas palavras foram silenciadas: “There was a man in our time, his words shine bright like the sun, he tried to lift the masses and was crucified by gun”.
“Satisfied mind” começa com uma guitarra blues rock para depois adoptar uma toada bluesy hipnótica em que os versos vão sendo cantados alternadamente por diferentes vozes. “Mother pray” é um gospel tradicional e foi respeitado como tal pelo produtor Ben Harper, a voz do cantor liderando o conjunto coral dos Blind Boys Of Alabama. “There will be a light”, o tema que dá o nome ao álbum, é uma balada soul gospel muito característica de Ben mas que aqui é enriquecida pelas vozes “vintage” de Clarence Fountain e os outros Blind Boys of Alabama. Por fim, o álbum termina com “Church on time” e talvez com o seu tema mais acelerado. Trata-se de um gospel acelerado próprio das celebrações dominicais das igrejas do sul dos Estados Unidos e só falta aqui mesmo uma sacred steel para endiabrar completamente o ritmo. Mais uma vez, cada um interpretará à sua maneira. Que igreja é aquela onde Ben vai ao domingo, com a sua melhor roupa, ouvir o pregador? “Put on your Sunday best, I’ll put on mine, need to hear the preacher give me a sign”. Amen.
“There Will Be a Light”
Ben Harper And The Blind Boys Of Alabama
EMI, distri. EMI-Valentim de Carvalho
O cantor escreveu sete dos temas, aos quais foram juntadas versões como “Well Well Well” de Bob Dylan, “Satisfied mind” ou a tradicional “Mother pray”. Como conceito, “There Will Be a Light” é um álbum dedicado a Deus e à relação com Deus. A nível musical, no entanto, é muito mais complexo, com o gospel e as vozes dos Blind Boys Of Alabama ( Clarence Fountain, Jimmy Carter, George Scott, Ricky McKinnie, Joey Williams, Bobby Butler e Tracy Pierce) a cruzarem-se com diferentes estilos, desde a funk aos blues e à soul.
“Take my hand” começa com uns arremedos de percussão e teclados para depois fundir o gospel com o funk. A voz de Ben Harper lidera o conjunto de vozes dos Blind Boys, de onde depois se solta a de Clarence Fountain repetindo “oh my lord, take my hand, let me walk with you, let me talk with you, don’t let me stumble”. O segundo tema, “Wicked man” é completamente diferente. Sua southern soul por todos os poros. É um daqueles temas que coloca toda a plateia a balançar e a dançar e que são tão do agrado de Ben Harper. Consegue passar a mensagem ao mesmo tempo que dá felicidade, numa bandeja, a quem ouve: “Every man is a common man and every common man has his plan but while the hungry man seek any food in sight, the greedy man seek only appetite. The wicked man shall fall”.
O terceiro tema, “Where could I go”, é uma simples mas belíssima balada gospel infectada de soul em que Ben Harper surge só perante Deus, com o fundo de um piano e de uma discretíssima secção rítmica. “Now I’m coming to you with my arms open wide, where could I go but to the lord”. Em “Church House Steps”, existe de novo muito balanço funky e a Fender sola em liberdade enquanto os Blind Boys of Alabama repetem incansáveis “I sat down upon the church steps”. As coisas tranquilizam, sossegam com o solo de slide acústica de “11th commandment”, que praticamente serve de introdução a “Well Well Well”, um gospel que Ben enriquece com um slide acústico muito Delta Blues. Aqui, quem dialoga são as vozes em coro e a guitarra, que acaba a solar, como num velho tema de blues do Mississipi.
“Picture of Jesus” já surgira no álbum “Diamonds On The Inside”. Ben Harper filosofa sobre o lado tranquilizante e abençoado de uma imagem de Jesus que transporta consigo mas reflete também sobre a forma como as suas palavras foram silenciadas: “There was a man in our time, his words shine bright like the sun, he tried to lift the masses and was crucified by gun”.
“Satisfied mind” começa com uma guitarra blues rock para depois adoptar uma toada bluesy hipnótica em que os versos vão sendo cantados alternadamente por diferentes vozes. “Mother pray” é um gospel tradicional e foi respeitado como tal pelo produtor Ben Harper, a voz do cantor liderando o conjunto coral dos Blind Boys Of Alabama. “There will be a light”, o tema que dá o nome ao álbum, é uma balada soul gospel muito característica de Ben mas que aqui é enriquecida pelas vozes “vintage” de Clarence Fountain e os outros Blind Boys of Alabama. Por fim, o álbum termina com “Church on time” e talvez com o seu tema mais acelerado. Trata-se de um gospel acelerado próprio das celebrações dominicais das igrejas do sul dos Estados Unidos e só falta aqui mesmo uma sacred steel para endiabrar completamente o ritmo. Mais uma vez, cada um interpretará à sua maneira. Que igreja é aquela onde Ben vai ao domingo, com a sua melhor roupa, ouvir o pregador? “Put on your Sunday best, I’ll put on mine, need to hear the preacher give me a sign”. Amen.
“There Will Be a Light”
Ben Harper And The Blind Boys Of Alabama
EMI, distri. EMI-Valentim de Carvalho
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