estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-09-13

NOTHING I CAN DO

Parece um submarino atingido por um torpedo mas que tarda em afundar-se. Vagueia pela redacção como um sonâmbulo. Eu sou amigo dele e vejo-o dia para dia a descer às profundezas, sentado vezes sem conta no aquário envidraçado que criaram para os fumadores. Fala pouco, arranco-lhe um sorriso cansado com dificuldade e pergunto-me o que posso fazer. Os olhos entristecidos dizem-me que nada. Abraço-o, dou-lhe uma palmada nas costas, digo-lhe que precisamos dele ali. "Não devias estar a ir-te abaixo". Pousa o cigarro, a barba por aparar, dá mais uma fumaça: "Mas estou, o que é que tu queres..."