estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-12-22

O aquário

Cada regresso à Madeira é um retorno ao aquário e de cada vez o dono do aquário vai colocando mais adereços para manter entretidos os peixinhos e o aquário vai crescendo e ganhando forma de paraíso semi-tropical sofisticado e a pessoa pergunta-se "mas afinal, de onde vem este dinheiro todo para decorar e melhorar o aquário"?
Dentro da estufa, daquele globo de vidro climatizado, os peixinhos idosos da Europa fria e endinheirada, passeiam entre jardins e árvores cobertas de lâmpadas de todas as cores, ouve-se música natalícia por todos os cantos e a ilha parece sorrir-nos num todo, como se todos ali fossem empregados ao serviços da indústria turística.
Táxis amarelos e azuis cruzam uma rede e miríade de túneis que um madeirense diz com orgulho já chegar aos 80 quilómetros e que leva comboios de autocarros turísticos rápidamente à Ponta do Sol, à Ribeira Brava, à Camacha.
A viagem cénica e perigosa a Porto Moniz, na velha estrada cavada na rocha, foi substituída por túneis que nos fazem desembocar numa nova Porto Moniz onde foi construído um porto aparentemente para pescadores que hão-de surgir e um heliporto em betão em formato de taça de champanhe virada ao contrário. "Mas afinal, de onde vem este dinheiro todo para forrar o aquário? Andamos nós no continente a matar-nos na IP4 e na IP5 por falta de túneis e viadutos e no aquário...não falta nada..."



2 Comments:

  • At 7:08 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Nesse caso eu acharia muito mais conveniente de que nao fosse comentado as obras que ja estao feitas e que foram suadas pelos madeirenses, mas que fosse feita uma pagina em que criticas ao que nao esta feito em portugal pudessem ser realizadas. Nao deveriam ser feitos comentarios idiotas acerca de pessoas que morrem na ip4 por estupidez de aceleras e de bebida mas sim de que pessoas na Madeira perderam a vida devido a derrocadas e que hoje poderiam estar conosco gracas aos novos tuneis. Criticar todos nos sabemos. Apreciar aquilo que e feito por razoes que poucos entendem e mais dificil. 12/01/2005 Kocianova23@hotmail.com

     
  • At 11:34 da manhã, Blogger NUNO FERREIRA said…

    Nas descidas inclinadíssimas do Marão, construídas assim para poupar dinheiro ao Estado, morrem seres humanos

     

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