A escolinha
Depressa, regressemos à carrinha dos normais, da civilização. Do lado de lá da vidraça, em frente ao Shopping Polama, em Maputo, os vendedores de artesanato só esperam que pestaneje, sorria ou olhe um segundo na sua direcção. Há um pequeno, muito negro, de olhar suplicante, que vende um presépio em madeira por 5 euros, o mesmo presépio que vendia por 10 momentos antes. Ah, depois há um gordo, baixo e atarracado que ainda não desistiu de me vender duas galinhas em madeira por uns 200 meticais, há os rapazes dos panos pintados, os batiks e não esquecer o rapaz das três girafas de madeira. Isto, claro, observado de dentro da carrinha. Lá fora, numa alucinação de "amigos", cada artista queria vender uma peça. "Amigo, p'ra ajudar, amigo..." No meio da confusão de braços, chamamentos, artigos em madeira espalhados pela calçada no meio de uma avenida movimentada de Polana, simpatizei com um mulato sorridente. Apareceu-me com uma escolinha moçambicana muito naive, o quadro preto onde se lê aeiou pendurado numa árvore, a professora apontando com uma vara para o quadro e os alunos aprendendo ao ar livre, pobre mas livre de Moçambique. Lá fui eu com a minha escolinha em madeira para o Hotel Rovuma. Parei no elevador, junto de um empregado e de uma mãe e de uma criança moçambicanas. "Ei, mãe, olha uma escola", comentava o miúdo, olhos a brilhar. A mãe: "Filho, isso não é uma escola, uma escola tem paredes e telhado". O empregado: "É sim, é uma escola lá no campo..." A senhora: "No campo?" O empregado: "Sim, no campo, antigamente. Agora, as coisas mudaram". A senhora: "Ah...." O miúdo: "Olha, onde se compra essa escola?" Comentário da mãe: "Ah não, eu não vou carregada para Nampula com uma escolinha dessas..."
2 Comments:
At 4:31 da tarde, T said…
Queria uma escolinha assim!!!
Que inveja.
At 5:43 da tarde, NUNO FERREIRA said…
E o David concerteza está doido por vender dezenas de escolinhas iguais a esta. Maldita a distância que nos separa de Moçambique
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