estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-03-01

TAXIDRAMAS

"O meu problema é que eu não consigo ficar sem reagir. Se for atacado, fico muito irritado, muito irritado e não consigo deixar de reagir. Por isso é que ultimamente não trago a pistola no carro. Se a tiver aqui e me tentarem assaltar, uso-a. Sei que não devo, mas uso-a. É instintivo. A única vez que não reagi foi em Luanda, em 75. Nunca mais vínhamos embora e os pretos sempre a provocarem-nos. Uma vez, um grandalhão, lá no refeitório do quartel, vem direito a mim com uma banana na mão e pergunta: "Isto é banana que se dê a comer?" O gajo estava a querer sublevar o pessoal todo. Eu, assim num segundo, foi uma coisa que me passou na cabeça, pego na banana, descasco a banana e como a banana. Nunca mais me esqueci desse dia. Aquele filho da puta queria porrada"
Taxista que foi Comando em África

Cabeça no volante, olhos inchados: "Vocês desculpe, é que peguei às 7h00 no primeiro trabalho. Ando a guiar uma carrinha e a descarregar mercadoria. E depois das 5h00 da tarde até à meia noite ando aqui no táxi. Chego a casa às 2h00, 3h00 da manhã, durmo umas horas e vou trabalhar. É que dantes, só o táxi dava para pagar as contas. Agora, só com dois empregos e já ando nesta vida de dois empregos há dois anos. Eu sei que um dia destes dá-me uma exaustão. Quer ficar aqui parado ou posso procurar outro caminho. É que ficarmos aqui parados nem é bom para si nem é bom para mim. Você perde dinheiro e eu perco a paciência"
Mulher taxista