estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-06-13

EUGÉNIO DE ANDRADE (1923-2005)

TENHO O NOME DE UMA FLOR

Tenho o nome de uma flor
quando me chamas.
Quando me tocas, nem eu sei
se sou água, rapariga, ou algum pomar que atravessei.

in «As Mãos e os Frutos», 1948