estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-09-02

DEBAIXO DO TAPETE


Posted by Picasa AP

Foi preciso o Furacão Katrina e as águas inundarem-nos a cidade para se lembrarem da gente. Sim, somos gente, apesar de pobres, negros e de vivermos à custa da segurança social e dos subsídios de desemprego. O presidente Bush não gosta da gente porque votamos sempre no Partido Democrata. O homem gostava de nos varrer para debaixo do tapete, oh se gostava. Pudera, com os Democratas no poder sempre temos um bocadinho mais de saúde, educação e assistência social. Eu não me interessa nenhuma guerra no Iraque nem guerra em raio de sítio nenhum por perto. A única vez que saí de New Orleans foi para visitar a Tia Augusta em Opelousas. Bem que eu gostava de lá ter ficado no campo. Esta cidade já não é boa seca quanto mais inundada. Tiros, crack, um calor e humidade insuportáveis, nicle de emprego. Bom, mas agora acabou-se. Vou comprar um bilhete para mim e para a minha filha na Greyhound e vamos bater à porta do Uncle David em Shreveport. A mãe Bell diz que ele está morto mas eu não acredito. Bem vi os envelopes amarelados por debaixo da caixa onde ela costuma guardar os cheques da segurança social. Vou arranjar para mim e para a Susie uma nova vida e vou empregar-me num Taco Bell e arranjar um namorado novo e frequentar o clube local às sextas à noite. Oh, sim, se vou. Maldita New Orleans.