estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-11-08

Foderam-nos o país e agora?

Vai para aí um grande entusiasmo com a vitória do Partido Democrata na House Of Representants e a sua eventual vitória no Senado. Confesso que se é para colocar mal disposto e na merda essa figura sinistra chamada George W. Bush, fico contente. Mas prefiro esperar para ver, como a maioria dos iraquianos, a quem o exército norte-americano destruiu o país e que já não acreditam em milagres vindos de Washington.
Muitos portugueses, enfadados com a pobreza franciscana da vida nacional, podem dar-se ao luxo de polemizar à mesa do café sobre as vantagens ou desvantagens da vitória democrata. Os iraquianos, a braços com uma vaga de violência sem precedentes, não tiveram tempo sequer para seguir as eleições do outro lado do mundo.
Agora, que os comentadores e especialistas em geo-estratégia e política norte-americana começam a palrar, prefiro escutar vozes como a de Mohamed Husni, um taxista iraquiano de 24 anos, que disse à uma hora à Reuters: "Os americanos arruinaram isto tudo e a única solução é irem embora e deixarem os iraquianos lidar com esta confusão".