estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-04-29

Estradas perdidas II

Taberna de Santa Maria de Arrifana, Poiares, as paredes forradas por azulejos, os matraquilhos a um canto, uma dúzia de moscas varejando de tal forma que receio que uma me caia na chávena de café. Uma porta liga à venda, de onde aldeões olham desconfiados e garrafas de lixívia espreitam para o interior do estabelecimento. Um homem alto, esguio e rosto enrugado observa-nos fixamente enquanto mastiga uma sandes. Depois, faz tilintar uma moeda e pede um copo de branco. Quando retomo viagem, observo pelo espelho retrovisor. Lá está ele, no meio da estrada, ainda de olhos muito abertos na minha direcção.