Brasileiro na Costa
1 “A Costa está cheia de brasileiros”
2 “Pois está”
1“E o pior é que eles não nos percebem. Você vai-lhes dizer uma coisa e eles não entendem o que você diz”
O homem levanta ligeiramente a mão direita e bebe mais um pouco de moscatel.
1 “Para que é que os deixam entrar, se nem sabem falar?”
2 “É isso, deixam entrar toda a gente”
O copo largo do moscatel esvazia-se num trago.
1 “Brasileiros e brasileiras...”
2 “Isso...olha o tempo hein, quem havia de dizer que íamos ter chuva...às 7h00 da manhã quando fui passear o meu cão, estava um sol...”
O copo permanece vazio mas o homem não parece interessado em largá-lo. O braço direito continua estendido na sua direcção. Entre ele e o copo, não parece existir mais nada.
1 “Ihhhh, tenho de ir ali fechar a porta, senão a chuva entra-me aqui dentro...”
2 “Brasileiros”...
1 “E brasileiras...”
O homem levanta a cabeça uns centímetros e mira o outro por detrás do balcão. Não fossem as dioptrias e vir-se-iam os olhos faiscar.
2 “Quer a continha?”
1 “hum...dê-me mais um moscatel...”
Nesse instante, correndo a abrigar-se da chuva entra Geraldo, mineiro de Governador Valadares.
3 “E aí, seu Jorge, tudo bem?
2 “Oh cara, então disseste que vinhas cá ontem, não vieste...tinha aqui aquela coisa para te dar. E o outro cara que mora lá com vocês, aquele gordo, de bigode?”
3 “Uh seu Jorge, isso é cara ruim...cê não vai ver ele por aqui de novo...”
2 “O quê? Foi-se embora para o Brasil?”
3 “O cara pediu 500 euro emprestados a um amigo meu e sumiu para o Brasil...Cê sabe, seu Jorge, tem cara legal e tem cara ruim. Cê tem que ‘tar de olho, seu Jorge, se não qualquer dia esses que estão bebendo aqui, não vão pagar não...Eu já lhe avisei...”
2 “O Sávio?”
3 “O Sávio, o Dércio e a turma dele, esse pessoal tá tudo barrado lá no centro da Costa. Por isso, ‘tão bebendo aqui seu Jorge...o senhor deveria tomar cuidado...”
O homem termina de ruminar por cima do seu segundo moscatel.
1 “Você ouviu falar do apartamento que assaltaram na semana passada ali à frente?
2 “É o apartamento de um vizinho meu. Bem que o avisei para reforçar a porta e a fechadura. Não me deu ouvidos”
1 “O problema não é da porta nem da fechadura, o problema é que você já não sabe quem anda por aqui...Faça-me a conta.”
3 “Eh....” Geraldo abana a cabeça em sinal de aprovação, “tem muita gente ruim no mundo mesmo...Seu Jorge, me dê um Sagres...Rapaz, quem assalta assim apartamento não pode ser boa gente...”
1 “Dois e quarenta e cinco...vou ter que lhe dar o troco em moedas pequenas...”
2 “Deixam entrar aqui toda a gente...”
O homem coloca as moedas rapidamente no porta-moedas e sai porta fora, mais as suas dioptrias e o mau humor.
3 “Ihhh..que bicho mordeu esse cara, seu Jorge?
2 “É do tempo, da chuva...o mau tempo faz mal à cabeça de algumas pessoas...”
3 “O pessoal por aqui é meio desconfiado, não é não?”
2 “É do tempo. Dá-lhes um dia de sol e já andam todos contentes. Não ligues Geraldo”.
3 “Cara esquisito...”
2 “Vá, conta aqui...e a Alcione?”
3 “Ihhh seu Jorge, que é que cê quer com a Alcione seu Jorge?”
2 “Pois está”
1“E o pior é que eles não nos percebem. Você vai-lhes dizer uma coisa e eles não entendem o que você diz”
O homem levanta ligeiramente a mão direita e bebe mais um pouco de moscatel.
1 “Para que é que os deixam entrar, se nem sabem falar?”
2 “É isso, deixam entrar toda a gente”
O copo largo do moscatel esvazia-se num trago.
1 “Brasileiros e brasileiras...”
2 “Isso...olha o tempo hein, quem havia de dizer que íamos ter chuva...às 7h00 da manhã quando fui passear o meu cão, estava um sol...”
O copo permanece vazio mas o homem não parece interessado em largá-lo. O braço direito continua estendido na sua direcção. Entre ele e o copo, não parece existir mais nada.
1 “Ihhhh, tenho de ir ali fechar a porta, senão a chuva entra-me aqui dentro...”
2 “Brasileiros”...
1 “E brasileiras...”
O homem levanta a cabeça uns centímetros e mira o outro por detrás do balcão. Não fossem as dioptrias e vir-se-iam os olhos faiscar.
2 “Quer a continha?”
1 “hum...dê-me mais um moscatel...”
Nesse instante, correndo a abrigar-se da chuva entra Geraldo, mineiro de Governador Valadares.
3 “E aí, seu Jorge, tudo bem?
2 “Oh cara, então disseste que vinhas cá ontem, não vieste...tinha aqui aquela coisa para te dar. E o outro cara que mora lá com vocês, aquele gordo, de bigode?”
3 “Uh seu Jorge, isso é cara ruim...cê não vai ver ele por aqui de novo...”
2 “O quê? Foi-se embora para o Brasil?”
3 “O cara pediu 500 euro emprestados a um amigo meu e sumiu para o Brasil...Cê sabe, seu Jorge, tem cara legal e tem cara ruim. Cê tem que ‘tar de olho, seu Jorge, se não qualquer dia esses que estão bebendo aqui, não vão pagar não...Eu já lhe avisei...”
2 “O Sávio?”
3 “O Sávio, o Dércio e a turma dele, esse pessoal tá tudo barrado lá no centro da Costa. Por isso, ‘tão bebendo aqui seu Jorge...o senhor deveria tomar cuidado...”
O homem termina de ruminar por cima do seu segundo moscatel.
1 “Você ouviu falar do apartamento que assaltaram na semana passada ali à frente?
2 “É o apartamento de um vizinho meu. Bem que o avisei para reforçar a porta e a fechadura. Não me deu ouvidos”
1 “O problema não é da porta nem da fechadura, o problema é que você já não sabe quem anda por aqui...Faça-me a conta.”
3 “Eh....” Geraldo abana a cabeça em sinal de aprovação, “tem muita gente ruim no mundo mesmo...Seu Jorge, me dê um Sagres...Rapaz, quem assalta assim apartamento não pode ser boa gente...”
1 “Dois e quarenta e cinco...vou ter que lhe dar o troco em moedas pequenas...”
2 “Deixam entrar aqui toda a gente...”
O homem coloca as moedas rapidamente no porta-moedas e sai porta fora, mais as suas dioptrias e o mau humor.
3 “Ihhh..que bicho mordeu esse cara, seu Jorge?
2 “É do tempo, da chuva...o mau tempo faz mal à cabeça de algumas pessoas...”
3 “O pessoal por aqui é meio desconfiado, não é não?”
2 “É do tempo. Dá-lhes um dia de sol e já andam todos contentes. Não ligues Geraldo”.
3 “Cara esquisito...”
2 “Vá, conta aqui...e a Alcione?”
3 “Ihhh seu Jorge, que é que cê quer com a Alcione seu Jorge?”
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