estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-05-11

Ramal de Moura

No meio da planície amarela, uma mancha esverdeada de oliveiras lá ao fundo, jaz uma estação ferroviária abandonada. Um grupo de andorinhas chilreia e brinca em cima de um fio de electricidade. Ervas altas amareladas invadem os carris e a plataforma. Na gare, há vestígios de uma fogueira. O vento sopra por entre as frinchas da porta de madeira de um armazém. No meio do nada, um hino à desolação há um relógio, enferrujado, que ficou para sempre com o ponteiro nas oito horas. O vento sopra as folhas de uma laranjeira, agita um outro pé de vinha e sacode as placas de zinco meio soltas do armazém. Há dez anos passava ali um comboio. Dir-se-ia o cenário de um filme de Wim Wenders.