estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-06-15

O drama do português

Se eu ponho a música alto, o meu vizinho queixa-se que eu já pareço os "pretos" da Damaia. Se eu visto uma t-shirt mais garrida ou excêntrica, vão-me perguntar onde a comprei. Se espirro, é porque espirro muito alto. Se ponho um boné na cabeça, é porque não fica bem ir para o trabalho de boné americanizado na tola. Se rio demais, é porque qualquer coisa está errada, porque nós nascemos para ser tristes. Se não buzino, sou otário, estou a deixar os outros passarem-me à frente sem protestar. Se não falo sobre o último filme do Kusturica, não sou intelectual. E se coloco uma bandeira na janela? Ui, que sarilho rasca e foleiro eu vou arranjar. Deixam-me espirrar? É permitido neste país de porteiros de discoteca? Atchiiiiimmmm!!!