estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-06-15

PROUD TO BE PORTUGUESE ou os intelectuais portugueses e a crise das bandeirinhas

É tão fácil ficar em casa, por detrás dos cortinados, como certas figuras queirosianas, a espreitar os vizinhos a colocar as bandeiras na janela ou nas varandas. É tão fácil criticar o "patriotismo foleiro" ou o "nacionalismo rasca", citar meia dúzia de intelectuais que se leu apressadamente e condenar o povo por querer ser feliz. Ainda para mais, um povo, o português, que um destino fatalista e fadista tinha marcado para ser triste e tímido e fechado na sua concha. Deixem-nos ser portugueses, alegres e foleiros...vá lá, só uma vez...depois já podem voltar a comentar os subsídios para o novo cinema português ou a poesia desencantada da nova geração. Deixem-nos gritar golo, cuspir no chão, beber cerveja, comer tremoços e gritar quando o Pauleta falha mais um golo: "Foda-se!"
E mais uma coisa: A ti emigrante do Pico, que uma vez me mostraste orgulhosamente na tua ilha claustrofóbica um cadillac trazido da América com uma placa onde se lia "proud to be portuguese", a ti dedico a bandeira que coloquei na varanda neste Europeu, que já coloquei em 2000 e em 2002.