estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-11-27

Andamos precisados de flores

Azáleas ainda por abrir em vários tons de rosa, amores-perfeitos, malmequeres amarelos e muitos ciclames vermelhos e brancos estão a ser plantados na Avenida da Liberdade depois das turbas do Euro 2004 e das festas populares terem arrasado com o que restava nos canteiros.
Só uma coisa desgosta quem as anda a plantar: nos coloridos canteiros já há, aqui e ali, uns poucos espaços vazios no lugar onde deviam estar flores. "O seu ar viçoso tornou-se de tal forma apelativo que houve quem não resistisse a levar uma para casa". Andamos todos precisados de flores, é o que é. Não levem a mal. "Eu amo-te", diz o rapaz de popa à Tintin e acne nas bochechas envergonhadas. "Oh, tão bonitas", diz ela, "onde as arranjaste?" Ele coça a borbulha maior, mais irritante: "Oh, comprei numa florista da Avenida da Liberdade".