A empregada da limpeza
A empregada da limpeza africana estava a limpar muito discretamente as secretárias da redacção e sorria timidamente. Até que, de tanto ouvir falar na Quinta do Mocho, saíu do seu mundo e saltou para o nosso, ganhando coragem para falar. "Deus me livre, vivi lá quatro anos e tive de saír de lá. Os jovens estão muito agressivos, não há polícia, os taxistas não querem lá ir. Agora eu vivo na Póvoa de Santa Iria, não tem comparação, é um sossego. Na Quinta do Mocho eu tinha medo". Falava baixinho, respeitosamente, como que dizendo "perdoe-me o senhor jornalista..." Saíu da sua bolha, do silêncio de mulher da limpeza e falou com o lado de cá. Fico-lhe muito agradecido. Por saltar o muro e falar comigo.
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