estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-02-15

Portugal a preto e branco

Os lenços brancos agitados por mulheres de rosto fechado e pesaroso, o branco dos lenços e o negro das roupas contrastado com o azulado do largo da Sé Nova. Apesar da cor no ecrã dos televisores, o adeus à Irmã Lúcia tem muito de preto e branco, o Portugal profundo que emergia a preto e branco sempre que Oliveira Salazar falava ao país aos microfones da Emissora Nacional, o preto e branco dos rostos dos nossos soldados no Ultramar, o Portugal a preto e branco em que eu cresci.