estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-04-14

Os grandes ajudam os pequenos e os pequenos ajudam os grandes

Sou de Oleiros, do concelho de Oleiros. Vim aqui parar aos táxis quando a empresa de camiões onde trabalhava fechou. Há um ano, não faltavam clientes. Agora, isto está mau mau mau. Se não fosse a mulher com quem me juntei em Setembro, uma viúva, não tinha dinheiro para comer. Temos de andar daqui para ali, desta praça de táxis para aquela, sou capaz de passar duas horas sem nada e depois aparecer uma corrida de dois euros. Eu não me nego a nenhum serviço, já trabalhei na construção, já abri valas, por mim, voltava para Oleiros mas agora tenho aqui a minha companheira e ela ajuda-me. É que está mau mau mau. Tenho os dentes da frente para arranjar e não tenho dinheiro. Mal consigo comer por causa da porcaria dos dentes. Não há dinheiro. Os grandes não têm dinheiro e os pequenos como nós ficam a perder também. Afinal, os grandes ajudam os pequenos e os pequenos ajudam os grandes.