estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-10-31

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12setembro_Bleza[1]

O B.Leza tem de deixar as instalações que sub-alugava ao Casa Pia Atlético Clube. Esta agremiação já finalizou as mudanças do espólio da biblioteca-museu que mantinha no palácio do Largo do Conde Barão e vai entregar agora as chaves aos proprietários com os quais já acordara em tribunal saír em fim de Agosto.
Os gerentes do B.Leza já têm uma reunião marcada para quinta-feira com a Câmara de Lisboa e puseram a circular um abaixo-assinado na internet. “Pretendemos conseguir apoio para encontrar um espaço alternativo para o clube. Precisamos de um espaço”.
O texto do abaixo-assinado (disponível no endereço www.marvirtual.com/bleza) acentua a importância da continuidade do projecto: “O palácio Almada Carvalhais acolheu o B.Leza e, com ele, tantos quantos os que quiseram vir e participar. Música e não só. Cinema, teatro, Exposições de Fotografia e Pintura, acções de Solidariedade (...). Foram muitos os que passaram pelo B.Leza. Se é um dos muitos que ficou, diga-nos que acredita na importância da continuação deste projecto...”
Instalado no Palácio do século XVI, classificado como monumento nacional, que pertenceu aos Almadas, Provedores da Casa da Índia, o B.Leza era um espaço único desde a arquitectura do páteo interior, das janelas de sacada e das arcadas até à intimidade e convívio cultural na sala e no corredor.
A sala do Casa Pia Atlético Clube era desde há 20 anos um espaço de animação cultural na noite lisboeta. Entre 1985 e 1989, protagonizou às sextas-feiras as “Noites Longas”, organizadas por Zé da Guiné, Hernâni Miguel e Mário Duarte. Ali se sucederam os lançamentos de livros, as passagens de moda e os concertos dos Xutos e Pontapés, Ena Pá 2000 ou Delfins.
Em 1989, nasceu na mesma sala o clube de música cabo-verdeana O Baile, onde tocaram e cantaram nomes da música cabo-verdeana como os Tubarões, Cesária Évora, Tito Paris, Celina Pereira e Paulino Vieira. O Baile daria lugar ao B.Leza em 1995. Foi lá que Tito Paris gravou em 1998 o seu disco duplo ao vivo. O álbum obteve grande projecção internacional e o crítico do prestigiado All-Music Guide recomenda-o vivamente aos amantes da música cabo-verdeana, elogiando a “energia” e a “qualidade da gravação”.Mais tarde, em 2003, a editora Movieplay lançou “Ao Vivo No B.Leza”, um disco que contem gravações feitas naquela sala em Janeiro e Junho de 2002. Neste último, participam SAP, Nancy Vieira, BIUS, Filipe Mukenga, Maria Alice, Filipa Pais, Dany Silva, Bana. Durante dez anos, o B.Leza expôs a música e a cultura cabo-verdeana a um público nacional e internacional. “Conseguiu juntar várias músicos de qualidade no mesmo espaço e as pessoas puderam passar a ir ouvir muitos cantores de renome”, explicou Tito Paris.