estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-12-29

A neve do BES

Os canhões dispostos nas janelas e num patamar do edifício do Banco Espírito Santo no Marquês de Pombal, em Lisboa, começaram a despejar flocos de neve artificial sobre a tela natalícia de 570 metros quadrados que cobre grande parte do prédio e a zona circundante. No passeio em frente, o cantor David Ripado cantava canções natalícias e dava ao lugar um ambiente diferente.À medida que os canhões começaram a trabalhar, foi-se juntando mais gente e foram sobretudo as crianças quem mais aproveitou o cenário por debaixo do edifício. Os carros estacionados por debaixo do prédio ou junto ao Hotel Fénix ficaram cobertos de flocos, enquanto um Pai Natal vestido a rigor era rodeado de crianças com garruços na cabeça.O vento, entretanto, mudou de feição e obrigou os técnicos a mudar a posição do canhão posto no patamar junto ao telão publicitário e natalício do BES para a extremidade esquerda. Conforme a intensidade e a direcção do vento, os flocos iam caindo sobre a relva e mesmo sobre os carros que viravam para a Rua Brancaamp. Enquanto David Ripado cantava It"s Christmas time, os mais atrevidos começaram a fotografar-se por debaixo dos pequenos nevões que engrossavam ou diminuíam consoante a intensidade com que os canhões largavam a neve artificial. Umas usavam os telemóveis, outras já tinham vindo munidas de câmaras fotográficas e de filmar.Quem passeava ali por baixo ficava com as roupas e os cabelos cobertos de flocos. A maioria adorou. "Estou a gostar muito, é muito bonito, muito giro", dizia uma mulher. "Só gostava que fosse mesmo a sério e que estivesse frio. Mas, paciência, é lindo na mesma". Um casal de jovens beijava-se demoradamente no meio do cenário branco. Um cão ladrava em direcção aos flocos. "Oh, estou a adorar. Está muito giro, nunca pensei que fosse possível. Ainda por cima é uma neve que não traz frio", exultava Rosário Mendes, de 24 anos.Os canhões tanto enviavam muitos flocos de repente, como quase paravam. "Ena pá", gritava um idoso, "como ela cai agora!" Um táxi que vinha largar uma passageira ao hotel ficou com o vidro da frente coberto de flocos. Junto à esquina da Brancaamp, coberta de neve artificial, uma mulher falava entusiasmada ao telemóvel: "Isto está muito giro, vocês têm de vir!"Menos sorridentes estavam os elementos da Divisão de Trânsito da PSP posicionados junto ao trânsito. Um agente procurava que os automobilistas não parassem nem afrouxassem as viaturas para espreitar, mas era praticamente impossível. "Vamos, vamos, toca a circular", dizia, esbracejando para os carros que circulavam àquela hora em direcção à Avenida da Liberdade e à Rua Brancaamp.

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