A CRISE DINAMARQUESA
"Controvérsia acerca dos cartoons reflecte problemas mais profundos na Dinamarca"
Artigo de Nancy Isenson, Voz da Alemanha
(tradução apressada do Estradas Perdidas)
Osama Al-Habahbeh tem estado na onda da controvérsia sobre os cartoons publicados no jornal dinamarquês "Jyllands-Posten" que têm revoltado muçulmanos por todo o mundo, tanto como reporter como muçulmano dinamarquês.
Osama Al-Habahbeh disse que compreende a ofensa que os desenhos provocaram mas condena as reacções extremas aos mesmos pelo mundo muçulmano, denunciando a violência e o queimar de bandeiras.
"Não é a forma de dialogar, de manter o diálogo", afirma o jornalista, que tem escrito para os media árabes desde a Dinamarca há mais de 20 anos.
Enquanto o episódio dos cartoons explodiu numa onda de protestos no Médio Oriente e abriu o debate no mundo inteiro, analistas dinamarqueses dizem que estes, no país, representam os problemas que a Dinamarca enfrenta em relação à imigração, particularmente à sua comunidade muçulmana.
Osama foi um dos fundadores do chamado "network alternativo", um grupo de muçulmanos dinamarqueses que começaram a encontrar-se recentemente para providenciar jornalistas e outros com uma visão mais enriquecedora da comunidade muçulmana.
"Alguns chamam-nos muçulmanos moderados, outros chamam-nos muçulmanos seculares, chamamo-nos muçulmanos", afirma Al-Habahbeh. "Não frequentamos mesquitas. Somos muçulmanos europeus e não queremos ser representados pelos imãs. O nosso objectivo é o de oferecer uma voz islâmica ao diálogo".
No que tem a ver com os muçulmanos, a Dinamarca vive uma crise, que foi provocada pelo governo dinamarquês, segundo Al-Habahbeh. O populista e anti-imigração Partido do Povo Dinamarquês teve um importante papel nesse capítulo.
Líderes do partido já disseram abertamente que o islão não é uma religião mas uma organização terrorista. Sem o apoio desta extrema-direita, a coaligação minoritária de liberais e conservadores liderada pelo primeiro-ministro Anders Fogh Rasmussen nunca teria conseguido ascender ao poder nem manter-se nele.
Uma sondagem feita entre segunda-feira e quarta-feira da semana passada mostrou que o Partido do Povo ganhou com ela. O apoio dos dinamarqueses ao partido de extrema-direita aumentou de 12.1 por cento para os 14.5 por cento
"A polémica dos cartoons alimentou ainda mais o debate sobre a imigração",afirma o analista político Lars Bille da Universidade de Copenhaga. "Os dois lados estão a extremar posições. E aqui as pessoas estão a virar-se ou para o partido Det Radikale Venstre ou para o Partido do Povo, cada um colocando-se nos pólos do debate".
Numa atmosfera tão inflamada, os cartoons ofensivos não são o aspecto fulcral da questão dinamarquesa, afirma Al- Habahbeh. Eles só ofereceram argumentos aos extremistas muçulmanos e à extrema-direita dinamarquesa.
"Os cartoons estão a ser usados quer pelos extremistas islâmicos quer pela extrema-direita aqui na Dinamarca", afirma Al-Habahbeh. "Os extremistas islâmicos estão a usar os cartoons em proveito próprio, dizendo que estes atacam o Islão para fortalecer ainda mais o choque de civilizações. E a extrema-direita está a usar os cartoons para dizer que um muçulmano nunca poderá ser um democrata. A violência e a queima de bandeiras nos países árabes também estão a ser usadas aqui na Dinamarca para fortalecer os argumentos racistas".
O jornalista diz que o governo dinamarquês podia ter prevenido a escalada do conflito há três meses quando onze embaixadores árabes lhe pediram uma audiência sobre o tema dos cartoons. Em vez disso, o primeiro-ministro Rasmussen enviou uma mensagem aos dinamarqueses. "Quando o primeiro-ministro se recusou a receber os embaixadores não estava a falar para os embaixadores, estava a falar aos eleitores".
Mesmo que o actual conflito seja ultrapassado, Al-Habahbeh não tem grandes esperanças que a crise mais profunda que a Dinamarca vive se resolva a curto-prazo.
"É verdade que o jornal pediu desculpa mas isso não fará grande diferença. Os muçulmanos na Europa pedem para ser respeitados como seres humanos, tal como os dinamarqueses. Enquanto essa vontade não for respondida, não penso que a crise possa parar".
Somos todos dinamarqueses? E que dinamarqueses estamos nós a apoiar? Não é a extrema-direita, pois não?
Artigo de Nancy Isenson, Voz da Alemanha
(tradução apressada do Estradas Perdidas)
Osama Al-Habahbeh tem estado na onda da controvérsia sobre os cartoons publicados no jornal dinamarquês "Jyllands-Posten" que têm revoltado muçulmanos por todo o mundo, tanto como reporter como muçulmano dinamarquês.
Osama Al-Habahbeh disse que compreende a ofensa que os desenhos provocaram mas condena as reacções extremas aos mesmos pelo mundo muçulmano, denunciando a violência e o queimar de bandeiras.
"Não é a forma de dialogar, de manter o diálogo", afirma o jornalista, que tem escrito para os media árabes desde a Dinamarca há mais de 20 anos.
Enquanto o episódio dos cartoons explodiu numa onda de protestos no Médio Oriente e abriu o debate no mundo inteiro, analistas dinamarqueses dizem que estes, no país, representam os problemas que a Dinamarca enfrenta em relação à imigração, particularmente à sua comunidade muçulmana.
Osama foi um dos fundadores do chamado "network alternativo", um grupo de muçulmanos dinamarqueses que começaram a encontrar-se recentemente para providenciar jornalistas e outros com uma visão mais enriquecedora da comunidade muçulmana.
"Alguns chamam-nos muçulmanos moderados, outros chamam-nos muçulmanos seculares, chamamo-nos muçulmanos", afirma Al-Habahbeh. "Não frequentamos mesquitas. Somos muçulmanos europeus e não queremos ser representados pelos imãs. O nosso objectivo é o de oferecer uma voz islâmica ao diálogo".
No que tem a ver com os muçulmanos, a Dinamarca vive uma crise, que foi provocada pelo governo dinamarquês, segundo Al-Habahbeh. O populista e anti-imigração Partido do Povo Dinamarquês teve um importante papel nesse capítulo.
Líderes do partido já disseram abertamente que o islão não é uma religião mas uma organização terrorista. Sem o apoio desta extrema-direita, a coaligação minoritária de liberais e conservadores liderada pelo primeiro-ministro Anders Fogh Rasmussen nunca teria conseguido ascender ao poder nem manter-se nele.
Uma sondagem feita entre segunda-feira e quarta-feira da semana passada mostrou que o Partido do Povo ganhou com ela. O apoio dos dinamarqueses ao partido de extrema-direita aumentou de 12.1 por cento para os 14.5 por cento
"A polémica dos cartoons alimentou ainda mais o debate sobre a imigração",afirma o analista político Lars Bille da Universidade de Copenhaga. "Os dois lados estão a extremar posições. E aqui as pessoas estão a virar-se ou para o partido Det Radikale Venstre ou para o Partido do Povo, cada um colocando-se nos pólos do debate".
Numa atmosfera tão inflamada, os cartoons ofensivos não são o aspecto fulcral da questão dinamarquesa, afirma Al- Habahbeh. Eles só ofereceram argumentos aos extremistas muçulmanos e à extrema-direita dinamarquesa.
"Os cartoons estão a ser usados quer pelos extremistas islâmicos quer pela extrema-direita aqui na Dinamarca", afirma Al-Habahbeh. "Os extremistas islâmicos estão a usar os cartoons em proveito próprio, dizendo que estes atacam o Islão para fortalecer ainda mais o choque de civilizações. E a extrema-direita está a usar os cartoons para dizer que um muçulmano nunca poderá ser um democrata. A violência e a queima de bandeiras nos países árabes também estão a ser usadas aqui na Dinamarca para fortalecer os argumentos racistas".
O jornalista diz que o governo dinamarquês podia ter prevenido a escalada do conflito há três meses quando onze embaixadores árabes lhe pediram uma audiência sobre o tema dos cartoons. Em vez disso, o primeiro-ministro Rasmussen enviou uma mensagem aos dinamarqueses. "Quando o primeiro-ministro se recusou a receber os embaixadores não estava a falar para os embaixadores, estava a falar aos eleitores".
Mesmo que o actual conflito seja ultrapassado, Al-Habahbeh não tem grandes esperanças que a crise mais profunda que a Dinamarca vive se resolva a curto-prazo.
"É verdade que o jornal pediu desculpa mas isso não fará grande diferença. Os muçulmanos na Europa pedem para ser respeitados como seres humanos, tal como os dinamarqueses. Enquanto essa vontade não for respondida, não penso que a crise possa parar".
Somos todos dinamarqueses? E que dinamarqueses estamos nós a apoiar? Não é a extrema-direita, pois não?
5 Comments:
At 11:57 da tarde, Knuque Mo said…
eu sou dinamarques!
At 11:58 da tarde, Knuque Mo said…
eu sou dinamarques
At 1:30 da tarde, NUNO FERREIRA said…
eu sou português
At 6:41 da tarde, José Raposo said…
Questão interessante, mas antes mais a crise dinamarquesa é a crise da Europa. Ainda assim, julgo que não se justifica a violência porque por esta perspectiva a violência apenas ajuda a extrema direita.
At 6:58 da tarde, NUNO FERREIRA said…
Pois ajuda. Acho que não pode haver qualquer tolerância para com a violência contra alvos dinamarqueses ou ocidentais
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