estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-06-10

VAMOS PINTAR O BAIRRO (FOTOS PROJECTO SEMENTES)

Os jovens envolvidos num projecto comunitário em curso na Rua João Nascimento Costa, na Picheleira, Lisboa, pintaram ontem a fachada do lote 6, o prédio onde fica a Casa da Juventude local, como forma de sensibilizar os restantes moradores a fazerem o mesmo.
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Antes da pintura (foto tirada pelos jovens)

O bairro, de nove lotes e 136 fogos geridos pela Gebalis (empresa municipal responsável pela gestão dos bairros camarários), foi criado para realojar, há cerca de cinco anos, os moradores das zonas degradadas da Quinta da Curraleira e do Casal do Pinto e foi recentemente notícia pelos piores motivos: um homem foi morto numa rixa na madrugada de dia 27 de Maio.
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A equipa de pintura antes de entrar em campo

"A ideia é os jovens fazerem com que os adultos dos outros lotes pintem as fachadas dos prédios e contribuam para melhorar a imagem do bairro. No mês passado, morreu uma pessoa da comunidade e o bairro recebeu muita publicidade negativa. Queremos mostrar que nem tudo o que se passa aqui é mau", explicou António Guterres, coordenador do projecto local Sementes (http://projectosementes.programaescolhas.pt/).
A iniciativa é destinada aos jovens e crianças do bairro e é apoiado pelo Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME). O objectivo é o de promover o sucesso escolar e vocacionar os jovens para uma futura ocupação profissional. O projecto possui um gabinete de informação e encaminhamento de jovens, atelier de acessórios e costura, aulas de capoeira, expressão dramática, videoteca, workshops diversos e ténis de mesa. Organiza também saídas de Verão de carácter cultural e social.
Ontem, o objectivo era o de levar os restantes moradores do bairro a aderir à ideia de pintar as fachadas e as entradas dos lotes neste momento muito grafitadas e degradadas. "É mais fácil começar com os mais jovens do que com os moradores mais velhos. Por outro lado, queremos que os jovens se sintam uma parte activa no bairro", explicou Guterres.
A tinta utilizada na pintura da fachada foi fornecida pela Gebalis. Depois de pintarem a fachada da Casa da Juventude, onde funciona o projecto Sementes, os jovens deverão fazer um concurso entre eles para escolher um desenho que os represente e sirva de mural.
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Em acção

Vasco Dias, jovem pintor no desemprego, era um dos mais activos. "Isto como estava e como está no resto do bairro só dá mau aspecto", explicava, de balde de tinta vermelha na mão. "Queremos o bairro mais limpo, mais saudável. Você vai aí às traseiras é só lixo, é uma vergonha!"Alguns adultos iam-se aproximando timidamente e observando os jovens a passar com a tinta vermelha por cima dos grafitti.
"Isto é uma maravilha", comentava Joaquim Maia, um vendedor de 48 anos cuja mãe vive no bairro. "Não podemos deixar degradar ainda mais um bairro que só de ser associado com a Curraleira já tem uma carga negativa muito grande.
"Uma idosa não cabia em si de contente: "Era bonito que estivesse sempre assim. Moro ali em baixo e os prédios estão uma vergonha. Precisam de arranjar tudo." A mesma idosa entrou no café vizinho e deparou com um sobrinho ocioso. "Pega no rolo e vai pintar!", disse-lhe. O sobrinho não gostou muito que provocassem o seu brio: "Até pintava, pintava aquilo tudo sozinho!"
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O observador

Um homem de etnia cigana aproximou-se de António Guterres para saber o que precisava para pintar o lote onde habita. "Ah, a Gebalis dá as tintas? Ok, tá-se bem, vamos combinar pintar aquilo", disse.
À medida que terminavam de pintar o lote 6, os jovens preparavam-se para, se a tinta chegasse, pintar outros lotes vizinhos. "A senhora do café aqui ao lado pediu para, se eles puderem, pintarem a fachada do lote dela e ofereceu-lhes alimentação durante a hora de almoço", explicou António Guterres.
No local, Ana Leonor Esteves, da Gebalis, explicou que, além do apoio a esta iniciativa, a câmara pretende que as lojas do bairro, algumas das quais devolutas, sejam entregues a instituições e associações que possam trabalhar com a população. "É bom que estejam aqui em permanência técnicos sociais", explicou.
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2 Comments:

  • At 4:27 da tarde, Blogger Nuno Guronsan said…

    Uma boa forma de unir as comunidades urbanas que nos últimos anos se têm defrontado com problemas como a violência e a deliquência. Parabéns pela divulgação, Nuno.

     
  • At 6:16 da tarde, Blogger moonlover said…

    Finalmente uma boa noticia, daquelas que já ninguem acreditava que a sociedade fosse capaz de fazer!!!
    Unir esforços para melhorar a qualidade de vida nestes bairros ;)
    Parabens jovens da Picheleira.

     

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