estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-10-04

A TRIP TO JAMAICA (a work in progress)

Posted by Picasa 1- A CHEGADA

Aterra-se em Montego Bay, no norte da Jamaica, com um montão de portugueses e a primeira coisa que se sente é o grandioso e húmido bafo tropical. Já estava à espera dele, rezava por ele desde que o piloto brasileiro anunciara que por baixo do avião, do lado esquerdo, dormiam as ilhas Turcos e Caicos. No aeroporto de Mo' Bay, a habitual confusão. "Não há ninguém que fale português, desculpe porque ninguém fala português?", perguntava uma senhora de cabelos grisalhos que ía para Ochos Rios. Naquele momento, invejei-a por descobri através de um stand e cartazes que estava naquele momento a começar um mega festival de três dias de reggae em...Ocho Rios e eu precisamente na direcção oposta para Negril. Formou-se uma fila de ansiosos e suados lusitanos. Antecipei os próximos 15 minutos de disputas inúteis e perguntas imbecis e bebi a minha primeira Red Stripe, a cerveja que me acompanhou durante três semanas. "C'mon", convidaram os bagageiros vestidos a rigor, em vermelho e branco, "enjoy our beer. Here in Jamaica, no problem!" Quando finalmente a desordem terminou e a troupe de 200 e tal portugueses foi distribuída por três ou quatro autocarros, já eu bebera a Red Stripe e descobri que aqui a família Ferreira era a última a entrar no autocarro. Conseguimos uns lugar ao fundo, o que foi bom e não foi. Já explico.

2- A CASA DOS QUEIJOS

Quer-se dizer, a princípio a viagem nocturna até Negril até que foi engraçada, apesar do ar condiciando estilo Alaska no Outono. Os últimos lugares estavam ocupados por um grupo de nortenhos absolutamente excitados. As crianças no primeiro dia de aulas não estão mais excitadas. Qualquer casa, qualquer bar de estrada, era um pretexto para gargalhada. Simpatizei imediatamente com eles da mesma forma que uns 15 minutos mais tarde já só me apetecia procurar algures no chão do autocarro um tijolo para arremessar contra os assentos de trás. "Olha aquela", ria uma mulher atrás das minhas orelhas, "parece a casa do queijo que o Tonito fez para guardar os queijos". Uma jovem do grupo, entretanto, começou a vomitar: "Ah, ela não está habituada. Foi a sua primeira vez...vai ficar boa, a gente arranja-lhe um namorado..." A mãe não pareceu achar muita piada. "Olha as casas dos pretos, xi...parece aquelas barracas lá em Lisboa..." Um homem de barriga proeminente e papos a circundar os olhos lamentou o facto de na Jamaica não poder ver o último episódio da novela "Belíssima". Seguiram-se minutos de discussão sobre quem traira quem e quem matara quem. Todo o restante autocarro dormia ou procurava dormir sob o frio glaciar do Alaska. Os fãs da "Belíssima" não se calaram o tempo todo. "Oh Clarinha, olha que aquele preto que veio aí com os papeís estava a meter-se com a Joana"...