estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-12-11

AREIA EM SÃO JOÃO DA CAPARICA OU O PALIATIVO DO COSTUME

Búzio O Bar Búzio fotografado no sábado dia 9 de Dezembro quando ainda era incerta a chegada da escavadora e dos camiões para transportarem areia para a duna que perdeu 30 metros. Os donos disponibilizaram-se para ali colocar pedra e areia. O Instituto da Água recusou a ideia e começou na tarde de ontem a operação de retirar areia do extremo norte da Praia de São João para colocar no loca devastado.
Hoje, o Ministro do Ambiente deslocou-se ao local e concerteza aproveitará para anunciar medidas. Depois de casa arrombada, trancas à porta.
De lembrar, no entanto, que as obras caríssimas de reforço dos esporões em Santo António foram deixadas a meio por "falta de verbas": Não houve qualquer alimentação artificial das praias como previsto e os esporões terminados em Maio, em dia de temporal, deixam a água passar de um lado para o outro. Nesses dias, nem os mais intrépidos pescadores se atrevem a pôr lá os pés.
Na zona sul da Praia de São João, onde o que resta das dunas e pedras em derrocada separam o mar do Parque de Campismo do INATEL, a única intervenção que vi até agora desde a última, em 2003, foi a das ondas. É preciso proteger urgentemente aquela zona com areias e pedras.
Do INATEL para norte, é o que se vê: A cratera de 30 metros onde a colocação de areia não vai ser suficiente.
Na próxima quinta-feira, não se esqueçam, estão previstas mais marés-vivas.

P.S. Já agora, aproveitem para passear à noite no paredão entre os restaurantes "O Barbas", "O Bento" e o "Primoroso" e os bares de Santo António. Sem luz dos candeeiros e buracos por todo o paredão, a maresia a fustigar-nos o rosto, a sensação mista de solidão e abandono é vivida como em poucos lugares. Como seria o passeio junto à praia em Espanha ou no Brasil? Oh, mas isso fica muito longe...

governadora
A Governadora Civil de Setúbal, Teresa Almeida, presta-se, ontem, a uma entrevista para a RTP em pleno Bar Búzio, que viu a sua vista do areal ser transformada numa periclitante e assustadora vista sobre as ondas.
Quinta-feira, dia 7, em declarações publicadas no Público, diz: "Não há capacidade de intervenção para minimizar os efeitos, devido às condições meteorológicas".
Ao "Correio da Manhã", afirma: "Neste momento não há possibilidade de intervenção, nomeadamente pelo INAG, e tem de se esperar por uma ruptura para se saber onde intervir”.
No Jornal da Noite da SIC, no sábado, afirma que o INAG (Instituto da Água) "está a acompanhar a situação e tem projectos para o futuro".
No domingo, defende que o reforço das dunas através da reposição de areia, iniciado nesse dia, tem «carácter prioritário», mas revelou que, a partir de segunda-feira, irá conhecer «os projectos para a obra na sua plenitude».
Comentário do Estradas Perdidas: É bom conhecer os projectos, dá-nos mais informação.





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Norte da Praia de São João cerca das 17h00 de domingo: Um camião dirige-se para a zona onde uma escavadora retira areia.

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A areia é retirada da Praia de São João para acudir... a Praia de São João.

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Areia para a duna que ameaçava romper. Ao fundo, do lado esquerdo, pode ver-se o Parque de Campismo do INATEL.

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Nos últimos anos, a geografia, a paisagem, o visual da Praia de São João da Caparica mudou por diversas vezes e sempre em recuo. Do paredão de Santo António à Cova do Vapor, o que existem já não são dunas, são restos das dunas, fiapos. As dunas têm sido cortadas pelo mar. Como um bolo indefeso a que restam as últimas fatias.