estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-07-04

Cenas campestres

"Estive três horas em Condeixa com o carro bloqueado no meio da confusão...deixei lá o carro e fui festejar. Dá-me uma mini", diz o vendedor de bebidas num remoto café da obscura aldeia de Ana de Aviz, concelho de Figueiró dos Vinhos. O café tem uma latada a cobrir a pequena esplanada que dá para um muro branco rematado a tijolo que a separa da estrada. Debaixo da latada, há sempre um ou outro aldeão a ler "A Bola", o "Record" ou o "Correio da Manhã". Agora, em plena febre do Euro, a proprietária colocou a televisão e o aparelho de recepção por cabo debaixo da latada. Assim, os clientes podem ver os jogos à fresca enquanto beberricam as minis ou enfiam pela goela abaixo aqueles copos redondinhos de branco quase gelado.
Por esta altura, o campo anda feliz. Ele é bandeiras portuguesas nos mais improváveis dos cenários: Uma bandeira irrompe colorida no meio de um campo de milho, outra agita-se ao vento presa por arames a uma chaminé antiga e as vinhas perderam a unanimidade do verde para se pintalgarem de vermelho. Aldeões circulam em motorizadas ou camionetas de caixa aberta com bandeiras desfraldadas. "Uh, aqui no dia do Portugal-Inglaterra foi uma loucura", conta a filha do dono do Café Maçudo, na aldeia das Bairradas, a cinco quilómetros de Figueiró dos Vinhos. "Estava pessoal até na rua..." O pior é que o Zé Luís, dono do Maçudo, instalou uma televisão grande no salão dos jogos para toda a gente poder ver o jogo mas esta estava sintonizada na Sport TV e tinha um desfasamento de três segundos em relação ao televisor mais pequeno do café. "Era a gente aqui a gritar golo e eles a vir a correr dali para ver aqui", conta a filha do Zé Luís, ao balcão de alumínio. "O meu pai já prometeu abrir um barril de cerveja no meio da rua mas só na final, só na final..."

2 Comments:

  • At 9:01 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    bem e sempre bom reviver o passado...
    e que conste que esse barril sempre foi aberto na rua, literalmente, para quem quisesse... so foi pena a final nao ter Sido nossa...

     
  • At 11:55 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Muitas memórias em cada um desses cafés...
    E tantas lágrima por causa dessa final..
    Mas antes da final, isso sim!! Foi tudo ao banho na fonte luminosa!
    :)

     

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