estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-07-11

Gosto muito do meu país

Gosto muito do meu país. No meu país há muitas praias e muitos pinhais e temos muitos jogadores de futebol famosos em todo o mundo. No meu país, as pessoas são alegres e não ficam muito preocupadas se chegam tarde ao trabalho. O meu pai não fica. O meu país está mais bonito agora porque tem muitas bandeiras verdes e vermelhas nas janelas e penduradas nos carros. No meu país temos muito orgulho nos nossos futebolistas e no nosso seleccionador. O meu pai até diz que ele devia ser o nosso presidente. Mas, querido diário, estou triste porque o meu pai desde que o Euro acabou voltou a dizer que o país está mal, que os políticos são uns aldrabões e que as estradas estão cheias de assassinos. O meu pai dizia mal do Sousa da mercearia mas agora está sempre a dizer mal do Lopes, do Santana Lopes. E também não percebo porque é o nosso primeiro-ministro teve de ir para o estrangeiro. Ninguém lhe fez mal...Até mudou de nome, dizem que no estrangeiro passou a chamar-se José Barroso e o nome dele em Portugal era José Manuel Durão Barroso. O meu pai também ficou todo chateado porque votou Ferro Rodrigues e agora diz que ele é um lingrinhas. Eu acho que a política faz com que o meu pai fique mais chato e aborrecido. Ontem não me deixou ver os "Morangos com Açúcar". Tenho saudades do meu país quando o Helder Postiga marcava um golo aos ingleses e nós lá em casa gritavamos todos: "goooolo, gooolo de Pooooortugal!"