O dia seguinte
No dia seguinte, a Avenida do Mar acordou tranquila, sonolenta, como se nada se tivesse passado na véspera. As bandeiras continuavam todas nas varandas e nas janelas mas as pessoas conversavam em surdina, cumprimentavam-se com a lentidão e a pacatez de outros dias. O Euro terminara e Portugal perdera mas o facto de termos chegado à final e o Sol continuar a brilhar na praia ali a dois passos, retirou dos ombros dos meus vizinhos a carga dolorosa das derrotas humilhantes. Agora, a rapaziada da Farmácia vai voltar a chatear o Sousa da mercearia, o Jorge vai aborrecer-se de morte dentro da banca de jornais, os donos dos cães vão regressar às conversas sobre as vacinas e o galego, do outro lado da Alameda, vai dizer, enquanto serve mais um copo de tinto: "Eu não-vos tinha dito?"
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