estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-07-05

O dia seguinte

No dia seguinte, a Avenida do Mar acordou tranquila, sonolenta, como se nada se tivesse passado na véspera. As bandeiras continuavam todas nas varandas e nas janelas mas as pessoas conversavam em surdina, cumprimentavam-se com a lentidão e a pacatez de outros dias. O Euro terminara e Portugal perdera mas o facto de termos chegado à final e o Sol continuar a brilhar na praia ali a dois passos, retirou dos ombros dos meus vizinhos a carga dolorosa das derrotas humilhantes. Agora, a rapaziada da Farmácia vai voltar a chatear o Sousa da mercearia, o Jorge vai aborrecer-se de morte dentro da banca de jornais, os donos dos cães vão regressar às conversas sobre as vacinas e o galego, do outro lado da Alameda, vai dizer, enquanto serve mais um copo de tinto: "Eu não-vos tinha dito?"