estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-10-18

Futebol no Portugalistão

Duas das três equipas mais importantes do Portugalistão encontraram-se domingo no Estádio de uma delas. A namorada do presidente do clube visitante não gostou de não ser convidada para a tribuna presidencial e foi para a bancada da sua claque com um cartaz muito giro onde se lia "orelhas estou aqui". A senhora referia-se ao presidente do outro clube. O clube da casa reservou mil lugares para os esperados dois mil bem comportados visitantes. Enquanto estes gritavam "queremos ver Lisboa a arder" e a namorada do presidente visitante, guardada por um simpático "capanga", erguia outro cartaz onde se lia "mais vale morto que vermelho", o namorado e presidente visitante não queria deixar que o jogo começasse porque os seus adeptos estavam que nem sardinha em lata. Eram para ter vindo dois mil, vieram quatro mil. O jogo lá começou, os visitantes marcaram um golaço com a ajuda dos da casa, jogaram tão maravilhosamente que não conseguiram marcar mais nenhum golo e lá se foi para o segundo tempo no estádio da capital do Portugalistão. O jogo maravilhoso dos visitantes desapareceu, dois jogadores travaram-se de razões e foram expulsos, um jogador grego dos visitantes agarrou um jogador norueguês na grande área e continuou a jogar como se nada fosse e por ali continuaram todos, cada vez mais nervosos. Depois, um jogador dos visitantes meteu a mão na bola na grande área e toca a jogar, que no ano passado foram campeões europeus e merecem o benefício da dúvida. Finalmente, cansado de sofrer, um jogador visitado decidiu que já era demais, que tanta ajuda para os visitantes já cansava e resolveu rematar, um daqueles remates que queimam qualquer mãozinha impreparada. Rematou, o melhor guarda-redes do mundo lá se atirou à bola, a bola passa-lhe por cima, entra na baliza, ele sacode-a para fora, diz com a mão que não houve nada, o árbitro e o fiscal de linha compreendem, afinal o homem é o melhor guarda-redes do mundo, que diabo... Resultado: ganharam os namorados, aquele senhor presidente dos visitantes que acabou o jogo a dizer adeus à bem educada namorada, todo contente, pois claro, ganhar é ganhar...e a namorada que acha que "mais vale morto que vermelho". Fazem um belo par de jarras e, acreditem, são eles que mandam no futebol do Portugalistão. Com eles, bola que entra não entra! E esta, hein...?

P.S. O Portugalistão fica algures na Europa mas é mais ficção que realidade.