estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-04-14

Diniz com Z

Leilão na Secção de Perdidos e Achados da PSP de Lisboa. Um idoso de bengala e uns olhos azuis vivos e observadores licita vários lotes de guarda-chuvas e faz questão de cada vez que licita, explicitar: "Chamo-me Diniz com z". O agente abraça um dos lotes de chapéus amarrados por umas cordas como um ramalhete de flores e diz: Mais um lote para o senhor Diniz com z". Os sacos grandes de plástico reunindo determinada categoria de objectos seguem-se em cima do balcão. Há um saco grande com marmitas e tupperwares, há um saco com roupa usada, e de repente surge um saco de plástico enorme com 40 pares de sapatos usados. O agente coloca-o em cima do balcão e revira-o para que todos os interessados o possam observar: "Atenção que o saco é oferta e o cheiro é grátis!" O leilão não tem fim. Ninguém mostra intenção de arredar pé. Por detrás do balcão, um molhe de velhos discos de vinil, um computador e uma máquina de escrever em braille aguardam a sua vez. O senhor Diniz licita mais um lote e repete: "Diniz com z". A sala larga uma gargalhada.