estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-02-10

Calling from Portugal

- Está lá, é do Jylland-Posten?
- Sim, é...(voz feminina evidenciando cansaço e algo rouca)
- Podemos falar com o director?
- Para quê? Olhe, se é mais uma ameaça de bomba, agora só amanhã, hoje já temos a agenda cheia.
- Não, não, porque diz isso?
- O seu sotaque, pareceu-me arábico, desculpe se o ofendi, peço imensa desculpa, oh meu Deus, não faço outra coisa nos últimos dias que não seja pedir desculpa, perdoe-me, isto tem sido difícil...
- Compreendo, precisamente por isso é que estou a ligar...
- Como assim?
- Estou a lidar de Lisboa, Portugal e...
- De Lisboa, Portugal?
- Sim, sim
- E quer manifestar e sua solidariedade para com o povo dinamarquês e mostrar o quanto está grato pelo que temos feito pela liberdade de expressão ao longo dos tempos e esteve ontem numa manifestação em Lisboa, é isso?
- ...como adivinhou?
- Toni, tenho aqui ao telefone mais um português!
- E não lhe podes dizer que eu estou na casa de banho?

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