estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-02-07

Posição do jornal israelita Haaretz

"O protesto muçulmano"
Editorial do jornal israelita Haaretz

A violência que acompanhou as explosões de protesto no mundo árabe e muçulmano contra países europeus onde caricaturas do profeta Maomé foram publicados merece ser duramente condenada. O incêndio de embaixadas, boicotes comerciais, raptos, espancamentos e ameaças de morte aos ofensores do Islão devem ser condenados.
No entanto, é impossível não compreender os sentimentos de insulto entre os muçulmanos do mundo inteiro, incluindo na Palestina e em Israel. Não se pode levar a sério a defesa por parte do Ocidente do multiculturalismo se este não incluir tanto gente secular como religiosa, membros das diferentes comunidades, minorias religiosas, muçulmanos e cristãos. Nenhuma sociedade pode permanecer alheada de publicações ofensivas que insultam valores tidos como sagrados por certos grupos dentro dela.
A publicação desses cartoons foi uma manifestação de insensibilidade e a sua republicação por vários jornais europeus também.

O jornal dinamarquês Jyllands-Posten, o primeiro a publicar os cartoons, o que fez há quatro meses atrás e que depois pediu desculpa, quase de certeza que não tinha por intenção provocar ou inflamar os muçulmanos. É também possível que o primeiro-ministro dinamarquês pudesse ter prevenido os enormes estragos causados se tivesse concordado, no momento próprio, em receber os embaixadores dos países árabes.As reacções dos manifestantes muçulmanos, que têm vindo a ganhar força, podem também refletir a raiva no mundo árabe e islâmico em relação à imagem do terrorista primitivo à qual, como alguns defendem, o Ocidente o procura associar.
Os editores do jornal argumentam que têm o direito de publicar os desenhos, em nome da liberdade de expressão e para protestar contra a auto-censura a que os europeus se impõem com respeito ao Islão. Mas mesmo a liberdade de expressão requere limites. As comunidades judaicas pelo mundo fora e até o governo israelita, sempre foram sensíveis, e protestam vigorosamente contra publicações anti-semíticas e anti-judaicas. Neste contexto; Israel não tem o direito uma política discriminatória, especialmente uma vez que é frequentement vítima de publicações semelhantes.
Por toda a Europa, existem muitos receios de que elementos das minorias muçulmanas procurem impor a sua cultura e o seu modo de vida nas nações europeias onde vivem. Esses receios são baseados na perseguição ao escritor Salman Rushdie, o assassinato do realizador holandês Theo van Gogh e na batalha em França sobre a proibição de usar “chadors” em instituições públicas.
Os media árabes, incluindo a imprensa palestiniana, publicam um infindável rol de cartoons, séries televisivas e livros cujas personagens anti-judaicas são comparáveis às caricaturas e publicações do nazi Der Sturmer. Essas publicações devem ser inequivocamente condenadas. Mas nem o medo dos países europeus em relação às suas minorias muçulmanas, o medo do terrorismo da Al-Qaeda ou as publicações anti-judaicas dos estados árabes são suficientes para justificar assaltos à religião.


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