Na I-61 (Dá nome a um belo disco de slide do Sonny Landreth)
O Sul dos Estados Unidos emerge ao longo da solitária I-61, entre a chuva que cai em catadupa e de repente, por entre relâmpagos. As copas das árvores chegam até à estrada e envolvem-na num manto verde.
Entramos num Hilton em Baton Rouge, Louisianna, à procura de uma loja de charutos. À porta estão estacionadas duas enormes e brancas limousines. Saímos de lá com um casal local que nos diz para seguirmos a sua pickup. Levam-nos por entre blocos de moradias de madeira, onde há cadeiras de balouço e mães com os filhos ao colo a balouçar.
O casal leva-nos a uma loja de tabaco toda em madeira, onde se pode encontrar em frascos todo o tipo de tabaco menos o cubano. “Os cubanos”, explica-nos o dono, “têem o melhor tabaco do mundo mas enrolam-no em más condições”.
Há todo o tempo do mundo para conversar e existe mesmo uma mesa onde fumadores inveterados se sentam a experimentar charutos. Depois, perguntamos ao dono da loja onde podemos comer bem em Baton Rouge. “Venham comigo”, diz. Mete-se no jeep e faz sinal para o seguirmos. Leva-nos a um bar em madeira onde fazem um “paradise” burger espectacular. “Este é o tipo de sítios que só os locais conhecem. Vocês nunca viriam aqui”. Mais tarde, damos conta de que deixámos as chaves dentro do carro. Os empregados não perdem tempo em chamar um especialista em abrir portas com um arame.
O sul é também a terra onde os homens vestem overalls (jardineiras) e cospem tabaco de mascar, guiam pickup-trucks com a bandeira dos confederados pendurada atrás. É a terra onde as mães balouçam com os filhos ao colo em alpendres de madeira com ventoinhas a rodar em cima. É a terra onde as empregadas de mesa nos recebem de mãos nas ancas: “How all y’ all doing today?” É a terra onde as temperaturas elevadas carregadas de humidade obrigam toda a gente a socorrer-se de uma bebida.
Ao lado da máquina de coca-cola, há sempre um caixote enorme com cubos de gelo para deitar dentro de grandes copos de plástico. Mas eles não deitam gelo apenas na coca-cola. “Take it”, disse-nos um negro que seguimos religiosamente até à loja de bebidas mais proxima. Pegou numa caixa de plástico cheia de cubos de gelo e preparou-se para nos encher o copo de cerveja com eles. “ Não, não, não, muito obrigado”, fomos obrigados a dizer.
Algumas experiências no Estado do Mississipi são difíceis de traduzir em escrita: comer um panado de frango a ferver e picante enquanto as gotas de suor pingam sobre a nossa t-shirt encharcada, sob as picadelas súbitas dos mosquitos.
Nas lojas de um grande centro comercial, somos tratados respeitosamente por “sir”. Muitas pessoas, especialmente os empregados, não fazem qualquer esforço para reduzir a sua pronúncia sulista mas entre os quadros, há alguma preocupação em tentar falar normalmente. “Se falarmos com o sotaque sulista, podemos não ter o mesmo sucesso profissional”, explica-nos uma executiva de uma editora musical em Nashville.
Muita gente continua a ter um orgulho desmedido em usar a bandeira dos confederados. “Ele está a fotografar o cão ou a bandeira?”, perguntava intrigado um jovem do Arkansas num café de estrada. Quando soube que o fotógrafo estava a fotografar a bandeira dos confederados pendurada na sua pickup truck, saíu imediatamente para o exterior para puxar a bandeira e pousar orgulhosamente a seu lado.
O Sul despediu-se-nos numa manhã de chuva, uma manhã quente e abafada. Com a facilidade com que se apanha um avião nos Estados Unidos, de um momento para o outro aterramos no meio da civilização, entre yuppies engravatados, donas de casa a passear caniches e taxis amarelos com vidros a separar o motorista dos clientes.
Banda sonora para a I-61
Robert Belfour
R.L. Burnside
Jessi Mae Hemphill
Sonny Landreth
Junior Kimbrough
O Catálogo da Fat Possum
Documentários: "Deep Blues" de Robert Mugge ou "The last Of The Mississipi Jukes"
Entramos num Hilton em Baton Rouge, Louisianna, à procura de uma loja de charutos. À porta estão estacionadas duas enormes e brancas limousines. Saímos de lá com um casal local que nos diz para seguirmos a sua pickup. Levam-nos por entre blocos de moradias de madeira, onde há cadeiras de balouço e mães com os filhos ao colo a balouçar.
O casal leva-nos a uma loja de tabaco toda em madeira, onde se pode encontrar em frascos todo o tipo de tabaco menos o cubano. “Os cubanos”, explica-nos o dono, “têem o melhor tabaco do mundo mas enrolam-no em más condições”.
Há todo o tempo do mundo para conversar e existe mesmo uma mesa onde fumadores inveterados se sentam a experimentar charutos. Depois, perguntamos ao dono da loja onde podemos comer bem em Baton Rouge. “Venham comigo”, diz. Mete-se no jeep e faz sinal para o seguirmos. Leva-nos a um bar em madeira onde fazem um “paradise” burger espectacular. “Este é o tipo de sítios que só os locais conhecem. Vocês nunca viriam aqui”. Mais tarde, damos conta de que deixámos as chaves dentro do carro. Os empregados não perdem tempo em chamar um especialista em abrir portas com um arame.
O sul é também a terra onde os homens vestem overalls (jardineiras) e cospem tabaco de mascar, guiam pickup-trucks com a bandeira dos confederados pendurada atrás. É a terra onde as mães balouçam com os filhos ao colo em alpendres de madeira com ventoinhas a rodar em cima. É a terra onde as empregadas de mesa nos recebem de mãos nas ancas: “How all y’ all doing today?” É a terra onde as temperaturas elevadas carregadas de humidade obrigam toda a gente a socorrer-se de uma bebida.
Ao lado da máquina de coca-cola, há sempre um caixote enorme com cubos de gelo para deitar dentro de grandes copos de plástico. Mas eles não deitam gelo apenas na coca-cola. “Take it”, disse-nos um negro que seguimos religiosamente até à loja de bebidas mais proxima. Pegou numa caixa de plástico cheia de cubos de gelo e preparou-se para nos encher o copo de cerveja com eles. “ Não, não, não, muito obrigado”, fomos obrigados a dizer.
Algumas experiências no Estado do Mississipi são difíceis de traduzir em escrita: comer um panado de frango a ferver e picante enquanto as gotas de suor pingam sobre a nossa t-shirt encharcada, sob as picadelas súbitas dos mosquitos.
Nas lojas de um grande centro comercial, somos tratados respeitosamente por “sir”. Muitas pessoas, especialmente os empregados, não fazem qualquer esforço para reduzir a sua pronúncia sulista mas entre os quadros, há alguma preocupação em tentar falar normalmente. “Se falarmos com o sotaque sulista, podemos não ter o mesmo sucesso profissional”, explica-nos uma executiva de uma editora musical em Nashville.
Muita gente continua a ter um orgulho desmedido em usar a bandeira dos confederados. “Ele está a fotografar o cão ou a bandeira?”, perguntava intrigado um jovem do Arkansas num café de estrada. Quando soube que o fotógrafo estava a fotografar a bandeira dos confederados pendurada na sua pickup truck, saíu imediatamente para o exterior para puxar a bandeira e pousar orgulhosamente a seu lado.
O Sul despediu-se-nos numa manhã de chuva, uma manhã quente e abafada. Com a facilidade com que se apanha um avião nos Estados Unidos, de um momento para o outro aterramos no meio da civilização, entre yuppies engravatados, donas de casa a passear caniches e taxis amarelos com vidros a separar o motorista dos clientes.
Banda sonora para a I-61
Robert Belfour
R.L. Burnside
Jessi Mae Hemphill
Sonny Landreth
Junior Kimbrough
O Catálogo da Fat Possum
Documentários: "Deep Blues" de Robert Mugge ou "The last Of The Mississipi Jukes"
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