estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-08-31

CRESCENT CITY

Crescent City
( de Lucinda Williams)

Everybody's had a few
Now they're talking about who knows who
I'm going back to the Crescent City
Where everything's still the same
This town has said what it has to say
Now I'm after that back highway
And the longest bridge I've ever crossed over Pontchartrain
Tu les ton sans temps that's what we say
We used to dance the night away
Me and my sister me and my brother
We used to walk down by the river
Mama lives in Mandeville
I can hardly wait until
I can hear my Zydeco
and laissez le bon ton roulet
And take rides in open cars
My brother knows where the best bars are
Let's see how these blues'll do
in the town where the good times stay
Tu les ton sans temps that's what we say
We used to dance the night away
Me and my sister me and my brother
We used to walk down by the river
Tu les ton sans temps that's what we say
We used to dance the night away
Me and my sister me and my brother
We used to walk down by the river

NEW ORLEANS WILL RISE AGAIN

New Orleans, 30 graus, 90 por cento de humidade, fim de semana do Memorial Day. Uma mulher de cabelo puxado atrás, com um olhar carinhoso e aparência hispânica, pergunta-nos se queremos que ela nos leia a palma da mão. Olha para as nossas mãos e sorri: “Hum, você tem uma longa linha da vida, vai viver muito tempo. É uma pessoa muito determinada, ambiciosa que luta pelo que quer. Mas vai haver mudanças na sua vida: vai mudar de casa em 1996 e vai ganhar mais dinheiro do que ganha agora”.
Esta foi a primeira pessoa que conhecemos em New Orleans e como ela, muitas nos deixaram a marca e a saudade da capital da Louisiana. Dificilmente se consegue deixar a cidade imune porque New Orleans se encarrega de nos envolver e o melhor que temos a fazer é aderir a ela, aos sons, aos cheiros, às gentes.
Decatur Street, Jackson Square, portas abertas dos restaurantes, ventoinhas sempre a rodar, os leitores da mão, os pintores de rua, os vendedores de balões que os retorcem na cabeça, dolares a rodar de umas mãos para as outras, New Orleans é uma festa.
Em New Orleans, não precisa de levar amigos porque se fazem amigos em todos os sítios onde se entra. Lembramo-nos de Rita, a chilena, que nos recebe à porta do Planet Holywood ou Jerry, o barman da House of Blues, que grita “Come on girls!” sempre que vê uma silhueta feminina à entrada da sala ou Johnny, do Planet Holywood. Perguntamos-lhe bem à portuguesa, muito sussurrantes: “ o que é que este gajo do lado está a beber?”. Responde em voz alta, quase a gritar: “oh! This guy here?” O homem, muito vermelho, sorri sem qualquer embaraço. “este gajo está a beber bourbon com coca-cola!”
Há gente por todo o lado, percorrendo as ruas do French Quarter. Em qualquer restaurante ou café como o G& B Courtyard, em que o jazz combina com o zap, zap das ventoinhas, os turistas bebem água em copos carregados de gelo. As ventoinhas estão por todo o lado em New Orleans, onde um bafo de ar quente e húmido nos recebe mal saímos da porta do avião. Até nas esplanadas há ventoinhas, como no bar The Gazebo, em pleno mercado francês, onde uma banda de velhos jazzistas ainda o ambiente.
Pode-se encontrar de tudo no French Market, um tecto de madeira coberto de ventoinhas: negras de chapeu de palha sentam-se em frente a grande ventoinhas vendendo cabeças de crocodilos de boca aberta. Enquanto o céu de New Orleans escurece e a cidade abafa com o calor, um negro dorme de boca aberta, entre caixas e caixas de fruta. Somos rodeados, entretanto, por frascos e frasquinhos de Jambalaya e gumbo, pozinhos de todos os sabores e cheiros.
New Orleans, nesse fim de semana, é um espectáculo de americanos em férias, pejando as ruas num frenesim colorido, enchendo as arcadas com copos enormes de coca-cola na mão. Famílias inteiras passeiam de calções e t-shirt, os pais de oculos espelhados.
Um palhaço diverte as hordas de turistas que enchem a esplanada do Café du Monde. Hoje, essa instituição de New Orleans pouco guarda de 1860 e enche-se de forasteiros que comem “beignets” cobertos de açúcar. Um velho senta-se sorridente numa banqueta onde se lê: “yes, take all the pictures you like and please, leave a generous donation”.
New Orleans é uma cidade de cheiros e sabores únicos. Passear pelo mercado francês de narinas abertas aos condimentos creoulos ou cajuns ou comer num restaurante é uma experiência especial. Depois de uma muito low budget refeição no McDonald’s, experimentámos a cozinha de New Orleans no Mr. B’s, um enorme espaço requintado de tecto de madeira recheado de ventoinhas. Fomos servidos por Juan, um peruano, de cabelo pretíssimo coberto de gel, que perdia metade do tempo a conversar em espanhol com duas colombianas e uma guatenalteca muito esculturais e faladoras. “Nunca foram ao Perú? Porquê? Têm medo?”
O requinte do prato, uma mistura de comida francesa com especiarias e temperos locais divinos transformou a refeição num banquete. Os empregados, vestidos a rigor mas sem afectação, são de uma simpatia descontraída. Quando procuramos a casa de banho, um rapaz de jaqueta faz-nos sinal com um dedo e indica-nos umas escadas com uma entrada de portão em ferro. Abre-nos o portão, prestável, mesmo sabendo que a gorjeta nunca lhe caberá a ele.
Mais abaixo, uma espectacular brass band de miúdos negros anima a rua em plena Jackson Square. Há um gordo enorme e suado com um trombone imenso. A música ecoa por todo o lado, em New Orleans, desde as bandas de rua aos jeeps que passam em frente ao “Planet Holywood” com as colunas no máximo.
A qualquer momento, desponta uma cena de rua só possível de assistir em New Orleans: De repente, uma procissão liderada por uma banda de jazz atravessa a pé a Decatur Street, criando um enorme engarrafamento. De outra vez, são dois noivos que passam em plena Decatur Street numa charrete para turistas.
Desde que o boom de exploração de petroleo e gaz terminou em meados de 80, que o Estado do Louisiana tem tentado encetar a recuperação económica, entre outras coisas, através do jogo e dos casinos flutuantes. Um tlin, tlin, tlin frenético não para nunca nas salas coloridas do Flamingo Casino. Tentamos a sorte numa máquina de 25 cêntimos mas em breve a nossa reserva de cinco dolares esgota-se. Jogadores inveterados seguram grandes baldes de plástico cheios de moedas. No andar de cima, joga-se nas mesas, sob o olhar atento dos croupiers. Mas lá em cima, arrumado a um canto mas fazendo-se ouvir por todo o barco, está a inevitável banda de jazz.
À noite, o trânsito na Bourbon Street é impossível. De copo de cerveja na mão, vendidos a dois dolares em pequenos bares enfiados entre os outros estabelecimentos, em grupos, gente de todo o lado entra e sai das dezenas de bares e restaurantes. É possível ouvir da rua concertos de jazz, blues, cajun ou zydeco sem se entrar em nenhum bar. As portas estão sempre abertas e a multidão é convidada a entrar por porteiros joviais que acabam a conversar em alta vozoaria com os forasteiros.
O único local onde é verdadeiramente difícil entrar chama-se Preservation Hall, o templo do dixieland jazz tocado pelos velhos instrumentistas numa sala decadente onde o que conta é a música. Para a maioria dos turistas, é uma vergonha regressar a casa e confessar que não se foi ao Preservation Hall. Por isso, ainda não são 19h e os preserverantes turistas formam fila à porta.
Nós conseguimos lá entrar a um dia de semana e mesmo assim, ficámos em bicos de pé, na sala claustrofóbica, a ouvir jazz de outras eras tocado pelos velhos músicos, que começam a actuação por explicar que não são permitidas fotos com flash.
“Mostra as mamas! Mostra as mamas!”, gritam das varandas de ferro rendilhado da Bourbon Street dezenas de rapazes e raparigas que atiram colares a quem, homem ou mulher passe em baixo na rua e prometa despir-se. “Hei, ela vai casar!”, grita uma loira, apontando para a acompanhante, que segura uma garrafa de cerveja na mão. “Yeah, é verdade, vou-me casar!”, grita lá para cima.
À medida que a noite avança, a multidão vai ficando mais desordeira e selvagem. Começam a aparecer os primeiros a cambalear ou a gritar no meio da rua, de garrafa na mão. Entre os restaurante de comida creoula e cajun, há shows de luta feminina na lama, espectáculos de strip tease e bares de prostitutas. Mas tudo coexiste pacificamente e as famílias são vistas a apreciar montras de roupa sado-masoquista com a mesma complacência com que admiram as múltiplas lojas de souvenirs e e t-shirts.
Na Bourbon, a polícia nada conseguiria fazer a pé e muito menos de automóvel, por isso, polícias a cavalo em grupos de dois, circulam pela multidão. Um grupo de raparigas em euforia alcoólica mete conversa com um jovem polícia, faz festas ao cavalo e grita: “é ele! É aquele ali na varanda!” Prenda-o! Roubou um Banco! Go on!”
No meio da rua, segurando uma enorme cruz de madeira, um grupo de baptistas tenta propagar a fé cristã no covil do pecado. “Tens Jesus em ti? Sentes Jesus?”, pergunta-nos Claire, uma morena algo alucinada que descreve toda aquela gente que passa por ela a divertir-se como “um bando de pecadores”. Já vamos a virar a esquina e um dos pregadores aparece-nos esbaforido, a correr e sorridente. “Está aqui, achei, um folheto em português!” Dá-nos um folheto onde se lê “Cristo salva” e desaparece entre a multidão.
New Orleans foi construída em grande parte em redor das plantações e os complexos habitacionais dos escravos junto a muitas mansões tornaram-se comunidades negras. Outras, foram criadas nos anos 50, como bairros sociais, a que em New Orleans dão o nome de “housing projects”. Esses bairros, a norte do French Quarter onde passeiam os turistas, são o habitual palco da violência relacionada com a droga. É de lá que vêm os miúdos que fazem sapateado na Decatur Street.
Nick, 12 anos, veio do Belleville Housing Project. Olha-nos com um ar desconfiado quando lhe começamos a fazer perguntas. A caixa no chão está vazia e Nick parece mais preocupado em enchê-la do que em responder às nossas perguntas. Tem as pernas cheias de feridas e preocupa-se em estancar as feridas. Depois, vira-se para nós: “Hei man, e que tal uma gorjeta?” Só sossega quando lhe passamos para a mão uma nota de um dolar e mesmo assim desata desenfreadamente a sapatear quando aparece um negro mais velho que o admoesta: “Não fales com ele!”
Acabamos a nossa última noite em New Orleans no enorme Mulate’s, um salão grande cheio de mesas com toalhas de vermelho e branco e uma banda cajun, violino e acordeon a todo o vapor, a fazer dançar os casais na pista.
Um dos grandes ex-libris de New Orleans são os barmen, como Tony, o do Mulate’s, que pergunta se conseguimos passar uma azeitona presa num copo para outro copo sem o levantar. Roda o copo com a azeitona lá dentro até ela girar de tal forma que é possível passa-la para o outro copo.
Ao fim de uma mistura de champanhe e sumo de laranja com rum mais dois Bloody Mary com molho cajun, a sensação de ter de deixar New Orleans é completa. Tentamos esquecer que vamos embora no dia seguinte mas como, se a pista está cheia de casais a rodopiar ao som do cajun, convidando-nos a ficar?

CRESCENT CITY BLUES


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CRESCENT CITY BLUES


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Sem palavras

Mário Soares ou O Regresso Triunfante do Grande Pai da Nação

"O país mudou"
Mário Soares, 31 de Agosto de 2005

Minutos mais tarde, o som e a luz do palco íam abaixo

"Acho que não mudou assim tanto"

Anónimo, a 31 de Agosto de 2005

2005-08-29

TRIP TO EAST EUROPE (continuação)


Posted by Picasa Szlarska Poreba

Sim, mergulhei naquelas águas gélidas mas puras como só a montanha

Posted by Picasa Portuguese and proud

Posted by Picasa Janela em Wroclaw

Posted by Picasa A nossa linda casinha no camping de Wroclaw

2005-08-28

New Orleans


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The City of New Orleans
( Steve Goodman)
Popularizada por Willie Nelson

Riding on the City of New Orleans,
Illinois Central Monday morning rail
Fifteen cars and fifteen restless riders,
Three conductors and twenty-five sacks of mail.
All along the southbound odyssey
The train pulls out at KankakeeRolls along past houses, farms and fields.
Passin' trains that have no names,Freight yards full of old black men
And the graveyards of the rusted automobiles.

Good morning America how are you?
Don't you know me I'm your native son,
I'm the train they call The City of New Orleans,
I'll be gone five hundred miles when the day is done.
Dealin' card games with the old men in the club car.
Penny a point ain't no one keepin' score.
Pass the paper bag that holds the bottle
Feel the wheels rumblin' 'neath the floor.
And the sons of pullman porters
And the sons of engineers
Ride their father's magic carpets made of steel.
Mothers with their babes asleep,
Are rockin' to the gentle beat
And the rhythm of the rails is all they feel.

Nighttime on The City of New Orleans,
Changing cars in Memphis, Tennessee.
Half way home, we'll be there by morning
Through the Mississippi darkness
Rolling down to the sea.
And all the towns and people seem
To fade into a bad dream
And the steel rails still ain't heard the news.
The conductor sings his song again,
The passengers will please refrain
This train's got the disappearing railroad blues.
Good night, America, how are you?
Don't you know me I'm your native son,
I'm the train they call The City of New Orleans,
I'll be gone five hundred miles when the day is done.

2005-08-23

No News

O país está a arder. O governo português é fraquinho. O Benfica começou o campeonato com uma equipa fraquinha mas ainda lá vai, que eu sei. O início da Liga de Futebol esteve envolto em diversas polémicas. Lisboa está vazia, quente e monótona. Em Setembro vão vir muitos carros para dentro da cidade e os taxistas vão dizer "porra, regressaram de férias todos ao mesmo tempo!" Nothing new, anyway...

2005-08-21

TRIP TO EAST EUROPE (work in progress)


Yeah, I know, is Wroclaw again Posted by Picasa

Wroclaw Posted by Picasa

Wroclaw, Polónia, no início de umas longas e bem rodadas férias Posted by Picasa

O ESTRADAS PERDIDAS

O Estradas Perdidas continua aqui. A todos os que nos linkaram, a todos os que nos leram, a todos os que deixaram mensagens, um até amanhã. É só eu recuperar da barrigada das férias.